O tempo sujo


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O tempo sujo
Sale temps


Há dias que eu odeio
Como insultos a que não posso responder
Sem o perigo duma cruel intimidade
Com a mão que lança o pus
Que trabalha ao serviço da infecção

São dias que nunca deviam ter saído
Do mau tempo fixo
Que nos desafia da parede
Dias que nos insultam que nos lançam
As pedras do medo os vidros da mentira
As pequenas moedas da humilhação

Dias ou janelas sobre o charco
Que se espelha no céu
Dias do dia-a-dia
Comboios que trazem o sono
A resmungar para o trabalho
O sono centenário
Mal vestido mal alimentado
Para o trabalho
A martelada na cabeça
A pequena morte maliciosa
Que na espiral das sirenes
Se esconde e assobia

Dias que passei no esgoto dos sonhos
Onde o sórdido dá as mãos ao sublime
Onde vi o necessário onde aprendi
Que só entre os homens e por eles
Vale a pena sonhar.

Il y a des jours aussi détestables
que des injures auxquelles je ne peux répondre
Sans le risque d'une cruelle intimité
Avec la main qui expulse le pus
œuvrant au service de l'infection

Ce sont des jours qui jamais n'auraient dû sortir
du sale temps qui nous met
Au pied du mur
Des jours qui nous insultent qui nous lancent
Les pierres de la peur les éclats de verre du mensonge
La petite ferraille de l'humiliation

Au-dessus du marais, jours ou fenêtres
Qui se reflète dans le ciel
Jours au jour le jour
Des trains qui sentent le sommeil
Et les grognements à l'heure du travail
Le sommeil centenaire
Mal fagoté, sous-alimenté
Pour le travail
Le marteau dans la tête
La petite mort malveillante
Qui se cache dans la spirale
des sirènes et siffle

Des jours que j'ai passés dans l'égout des rêves
Où le sordide donne la main au sublime
Où j'ai vu le nécessaire où j'ai appris
Que seul parmi les hommes et pour eux
Cela vaut la peine de rêver.

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Mario Sironi
Le gazomètre (1945)

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