Orfandade


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Cecilia Meireles »»
 
Viagem (1939) »»
 
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Orfandade
Orpheline


A menina de preto ficou morando atrás do tempo,
sentada no banco, debaixo da árvore,
recebendo todo o céu nos grandes olhos admirados.

Alguém passou de manso, com grandes nuvens
 no vestido,
e parou diante dela, e ela, sem que ninguém falasse,
murmurou: «A MAMÃE MORREU».

Já ninguém passa mais, e ela não fala mais, também.
O olhar caíu dos seus olhos, e está no chão,
 com as outras pedras,
escutando na terra aquele dia que não dorme
com as três palavras que ficaram por alí.
La fille en noir demeurait la plupart du temps,
assise sur un banc, sous l'arbre,
recevant tout le ciel dans ses grands yeux admiratifs.

Quelqu'un passa doucement, avec de gros nuages
 sur ses habits,
et s'arrêta devant elle, et elle, sans que personne ne parle,
murmura: « MAMAN EST MORTE ».

Désormais plus personne ne passe et elle ne parle plus.
Son regard est tombé de ses yeux, sur le sol
 avec les autres pierres,
il épie dans la terre ce jour qui ne dort pas
avec les trois mots qui demeurent ici.

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Edvard Munch
La mère morte et l'enfant (1897-1899)

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