A rosa branca


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Thiago de Mello »»
 
A Lenda da Rosa (1956) »»
 
Italien »»
«« précédent /  Sommaire / suivant »»
________________


A rosa branca
La rose bianche


Não me inquieta se o caminho
que me coube - por secreto
desígnio - jamais floresce.
Dentro de mim, sei que existe,
oculta, uma rosa branca.
Incólume rosa. E branca.

Não pude colhê-la: mal
nascera e logo perdi-me
nos labirintos do tempo,
onde desde então pervago
apenas entressonhando
aquilo que sou - e vive
no recôncavo da rosa.

Sem conhecer-me, padeço
o mistério de existir
em amargo desencontro
comigo mesmo. No entanto,
pesar tão largo se apaga
quando pressinto: na rosa,
mistério não há. Nenhum.

Sem medo de trair-me a face,
posso morrer amanhã.
Extinto o jugo do tempo,
olhos nem boca haverá
- para a queixa e para a lágrima -
se em vez de rosa, de pétala,
cinza de pétala, apenas
existir a escuridão.
O vazio. Nada mais.

Je ne m'inquiète pas si le chemin
qui m'échoit – par secret
dessein – ne s'orne jamais de fleurs.
Au fond de moi, je sais qu'il existe,
cachée, une rose blanche.
Rose saine et sauve. Et blanche.

Je n'ai pas pu la cueillir : né à
peine je me perdais bientôt
dans les labyrinthes du temps
où dès lors, je divaguais
en tous sens, pressentant
l'être que je suis - et qui vit là
dans les replis de la rose.

Sans me connaître, je pâtis
du mystère d'exister
dans une amère divergence
avec moi-même. Et pourtant,
ce poids si lourd s'éteint
lorsque je sens que dans la rose
il n'est aucun mystère. Aucun.

Sans peur de me trahir,
je peux mourir demain
Disparu le joug du temps,
il n'y aura ni yeux ni bouche
- pour les plaintes et pour les larmes -
si au lieu de rose, de pétales,
de cendre de pétales, il n'existe
rien d'autre qu'une obscurité.
Un vide. Et rien de plus.

________________

René Magritte
La boîte de Pandore (1951)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Adão Ventura (41) Adélia Prado (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (40) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Antônio Brasileiro (1) Antônio Cícero (40) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (112) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (40) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (30) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) Jorge Sousa Braga (40) Jorge de Sena (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Régio (31) José Saramago (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Luis Filipe Castro Mendes (40) Lêdo Ivo (33) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (33) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Mário Cesariny (34) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (483) Pedro Mexia (40) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (292) Pássaro de vidro (52) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)