A fruta aberta


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Thiago de Mello »»
 
Faz escuro mas eu canto (1965) »»
 
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A fruta aberta
Le fruit ouvert


Agora sei quem sou.
Sou pouco, mas sei muito,
porque sei o poder imenso
que morava comigo,
mas adormecido como um peixe grande
no fundo escuro e silencioso do rio
e que hoje é como uma árvore
plantada bem alta no meio da minha vida.

Agora sei as coisa como são.
Sei porque a água escorre meiga
e porque acalanto é o seu ruído
na noite estrelada
que se deita no chão da nova casa.
Agora sei as coisas poderosas
que valem dentro de um homem.

Aprendi contigo, amada.
Aprendi com a tua beleza,
com a macia beleza de tuas mãos,
teus longos dedos de pétalas de prata,
a ternura oceânica do teu olhar,
verde de todas as cores
e sem nenhum horizonte;
com  tua pele fresca e enluarada,
a tua infância permanente,
tua sabedoria fabulária
brilhando distraída no teu rosto.

Grandes coisas simples aprendi contigo,
com o teu parentesco com os mitos mais terrestres,
com as espigas douradas no vento,
com as chuvas de verão
e com as linhas da minha mão.
Contigo aprendi
que o amor reparte
mas sobretudo acrescenta,
e a cada instante mais aprendo
com o teu jeito de andar pela cidade
como se caminhasses de mãos dadas com o ar,
com o teu gosto de erva molhada,
com a luz dos teus dentes,
tuas delicadezas secretas,
a alegria do teu amor maravilhado,
e com a tua voz radiosa
que sai da tua boca
inesperada como um arco-íris
partindo ao meio e unindo os extremos da vida,
e mostrando a verdade
como uma fruta aberta.

Désormais je sais qui je suis.
Peu de chose mais j'en sais beaucoup,
car je connais le pouvoir immense
qui vit en moi,
mais qui dormait comme un gros poisson
dans les fonds silencieux et sombres du fleuve,
et qui aujourd'hui est comme un arbre
planté bien droit au milieu de ma vie.

Désormais, je sais comment sont les choses.
Je sais pourquoi doucement l'eau coule
et pourquoi son bruit apaise
dans la nuit étoilée
qui se répand sur le sol de ma nouvelle maison.
Désormais je connais les choses puissantes
qui ont de la valeur chez un homme.

Avec toi, j'ai appris, mon amour.
J'ai appris avec ta beauté,
avec la molle beauté de tes mains,
tes longs doigts de pétales d'argent,
la tendresse océanique de ton regard,
avec toutes les nuances du vert
et sans aucun horizon ;
avec ta peau fraîche et lunaire,
ton enfance permanente,
ta sagesse fabuleuse
brillant distraitement sur ton visage.

J'ai appris avec toi de simples et grandes choses,
toi parente avec les mythes les plus terrestres,
avec les épis d'or sous le vent,
avec les pluies d'été
et avec les lignes de ma main.
Avec toi, j'ai appris
que l'amour est partage
mais surtout qu'il enrichit,
et à chaque instant j'en apprends davantage
avec ta façon de traverser la ville
comme si tu marchais main dans la main avec l'air,
avec ton goût d'herbe mouillée,
avec la lumière de tes dents,
tes secrets délicats,
la joie de ton merveilleux amour,
et avec ta voix radieuse
qui sort de ta bouche
inattendue comme un arc-en-ciel
qui se brise en deux et réunit les extrémités de la vie,
montrant la vérité
comme un fruit ouvert.

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Emiliano di Cavalcanti
Nature morte avec fruit (1954)
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