Não aprendo a lição


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Thiago de Mello »»
 
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Não aprendo a lição
Je ne retiens pas la leçon


A lição de conviver,
senão de sobreviver
no mundo feroz dos homens,
me ensina que não convém
permitir que o tempo injusto
e a vida iníqua me impeçam
de dormir tranquilamente.
Pois sucede que não durmo.

Frente à verdade ferida
pelos guardiães da injustiça,
ao escárnio da opulência
e o poderio dourado
cujo esplendor se alimenta
da fome dos humilhados,
o melhor é acostumar-se,
o mundo foi sempre assim.
Contudo, não me acostumo.

A lição persiste sábia:
convém cabeça, cuidado,
que as engrenagens esmagam
o sonho que não se submete.
E que a razão prevaleça
vigilante e não conceda
espaços para a emoção.
Perante a vida ofendida
não vale a indignação.
Complexas são as causas
do desamparo do povo.
Mas não aprendo a lição.
Concedo que me comovo.

La leçon du vivre ensemble,
si ce n'est du survivre
dans le monde féroce des hommes,
m'enseigne qu'il ne convient pas
de laisser le temps injuste
et la vie inique m'empêcher
de dormir tranquillement.
Car il se trouve que je ne dors pas.

Face à la vérité blessée
par les gardiens de l'injustice,
les railleries de l'opulence
et le pouvoir doré
dont la splendeur se nourrit
de la faim des humiliés,
le mieux est de s'y accoutumer,
le monde a toujours été ainsi.
Cependant, je ne m'y accoutume pas.

Cette leçon reste prudente :
Tête, attention, tu dois convenir
que les engrenages pressurent
le rêve qui ne se soumet pas.
Et que prévaut la raison
vigilante qui ne concède
aucun espace à l'émotion.
Devant la vie offensée,
l'indignation ne vaut pas.
Les causes sont complexes
de l'abandon du peuple.
Mais je ne retiens pas la leçon.
Je concède qu'elle puisse m'émouvoir.

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Tacuinum sanitatis
Insomnie (sec. XIV)
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