Toma-me...


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Hilda Hilst »»
 
Júbilo, memória, noviciado da paixão (1974) »»
 
Italien »»
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Toma-me...
Prends-moi...


Toma-me. A tua boca de linho sobre a minha boca
Austera. Toma-me AGORA, ANTES
Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me
Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute
Em cadência minha escura agonia.

Tempo do corpo este tempo. Da fome
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,
Um sol de diamante alimentando o ventre,
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.

Te descobres vivo sob um jogo novo.
Te ordenas. E eu delinqüescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza.
Prends-moi. Tes lèvres de lin sur mes lèvres
Austères. Prends-moi MAINTENANT, AVANT
Avant que la chair ne se transforme en sang, avant
De mourir, mon amour, avant ma mort, prends-moi
Enfonce ta main, respire mon souffle, bois
chacune des gorgées de ma sombre agonie.

Temps du corps ce temps-là. De la faim
Du dedans. Corps qui se connaît, avec lenteur,
Soleil de diamant qui nourrit le ventre,
Le lait de ta chair, la mienne
Insaisissable.
Et sur nous cette trame du temps futur
Tramant la grande toile. Par-dessus nous, la vie
La vie débordante. Cyclique. Flux et reflux.

Tu te découvres vivant pour un nouveau jeu.
Tu ordonnes. Et moi, délinquante : amour, amour,
Avant que le mur, avant que la terre, je dois
Je dois crier chacune de mes paroles, entrailles
Enchantées
Contre la chaude texture de la roche. Je dois crier
Me dire toute entière. Mais à tes côtés, immense
Je m'étire. Pourpre. Opulente. Délicate
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Amedeo Modigliani
Nu couché (1919)
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