Tudo vive em mim...


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Hilda Hilst »»
 
Júbilo, memória, noviciado da paixão (1974) »»
 
Italien »»
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Tudo vive em mim...
Tout vit en moi...


Tudo vive em mim. Tudo se entranha
Na minha tumultuada vida. E por isso
Não te enganas, homem, meu irmão,
Quando dizes na noite, que só a mim me vejo.
Vendo-me a mim, a ti. E a esses que passam
Nas manhãs, carregados de medo, de pobreza,
O olhar aguado, todos eles em mim,
Porque o poeta é irmão do escondido das gentes
Descobre além da aparência, é antes de tudo
LIVRE, e por isso conhece. Quando o poeta fala
Fala do seu quarto, não fala do palanque,

Não está no comício, não deseja riqueza
Não barganha, sabe que o ouro é sangue
Tem os olhos no espírito do homem
No possível infinito. Sabe de cada um
A própria fome. E porque é assim, eu te peço:
Escuta-me. Olha-me. Enquanto vive um poeta
O homem está vivo.
Tout vit en moi. Tout s'enfonce
Dans ma vie tumultueuse. Et non,
Homme, mon frère, tu n'as pas tort,
Lorsque la nuit, tu dis que je suis seule à me voir.
Me voyant, moi, toi et ceux qui passent
Les matins chargés de peur, de pauvreté,
Avec leurs yeux larmoyants, eux tous en moi,
Car le poète est le frère caché du peuple
Il découvre au-delà de l'apparence, avant tout il est
LIBRE, et donc il sait. Lorsque le poète parle
Il parle depuis sa chambre, pas sur la scène,

Ni dans l'assemblée, il ne désire ni richesse
Ni ne marchande, il sait que l'or est du sang.
Son regard est tourné vers l'esprit de l'homme
Vers l'infiniment possible. Il connaît la faim que
Chacun possède. Aussi, je t'en prie, écoute-moi.
Regarde-moi. Tant qu'un poète est en vie
L'homme est vivant.
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Marc Chagall
Double profil sur fond bleu et vert (1950)
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