A vida é líquida


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A vida é líquida
La vie est liquide


É crua a vida. Alça de tripa e metal.
Nela despenco: pietra morula ferida.
É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.
Como-a no livor da língua
Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me
No estreito-pouco
Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida
Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.
E perambulamos de coturno pela rua
Rubras, góticas, altas de corpo e copos.
A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.
E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima
Olho d'água, bebida. A vida é líquida.
Cruelle est la vie. Métal et sangle aux tripes.
J'y dégringole : pierre morula blessure.
Elle est cruelle et dure la vie. Comme un quignon vipérin.
Je la mange de ma langue livide.
Encre, je lave tes avant-bras, Vie, je me lave
au petit-étroit
De mon corps, je lave les solives de mes os, de ma vie
Ton ongle saturnien, mon manteau rouge.
Et nous déambulons en cothurnes par les rues
Rouges sang, gothiques, hauts de corps et lunettes.
La vie est cruelle. Famélique comme le bec des corbeaux.
Et elle peut être si généreuse et mythique : ruisseau, larme...
Œil de l'eau, breuvage. La vie est liquide.
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Paul Cezanne
Six femmes au bain (1874)
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