Noite das baleias azuis


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Francisco Carvalho »»
 
Corvos de Alumínio (2007) »»
 
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Noite das baleias azuis
Nuit des baleines bleues


A noite é uma prostituta de olhos míopes
que se deita na cama conosco.
Os seios da noite exalam aromas de flores desabrochadas
nos pântanos. A noite, meretriz egípcia,
encobre o rosto de esfinge que incendeia os mortos.

A noite rumina sua pastagem de trevas
nas ladeiras e declives do Tártaro.
Hipopótamo dos pântanos da Ásia, a noite deita-se
na cama das monjas e noviças, entre as dobras
da insônia e a sensualidade dos lençóis.

A noite arrasta a placenta cravejada de estrelas
sobre esqueletos de múmias e faraós.
Amamenta as crias de cobras e lagartos,
anjos de pedra-sabão, madonas do Aleijadinho,
profetas exilados nas cavernas do Hebron,
dragões gerados nas estranhas das baleias azuis,
éguas e cavalos árabes de linhagem barroca,
ossadas de navios soterrados pelo dilúvio.

A noite é uma feiticeira
que nos ensina os rituais do Kama-Sutra
e nos introduz no purgatório dos frios candelabros.
La nuit est une prostituée aux yeux myopes
qui se met au lit avec nous.
Les seins de la nuit exhalent des arômes de fleurs épanouies
de marécage. La nuit, putain égyptienne,
masque son visage de sphinge qui brûle les morts.

La nuit rumine sa pâture de ténèbres
aux versants des collines du Tartare.
Hippopotame des marais d’Asie, la nuit se couche
dans le lit des moniales et des novices, entre les plis
de l’insomnie et la sensualité des draps.

La nuit traîne son placenta incrusté d’étoiles
sur les squelettes des momies, des pharaons.
Elle allaite les petits des serpents et des lézards,
anges de pierre à savon, Madones de l’Estropié,
prophètes exilés dans les cavernes d’Hébron,
dragonnes générées en d'étranges baleines bleues,
juments et chevaux arabes de lignée baroque,
os des navires ensevelis sous le déluge.

La nuit est une sorcière
qui nous enseigne les rituels du Kamasutra
et nous introduit dans le purgatoire des froids chandeliers.
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Nikolay Mescherin
Nuit glaciale (1908)
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