A Bela Adormecida


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Luís Filipe Castro Mendes »»
 
Os amantes Obscuros (1999) »»
 
Italien »»
«« précédent / Sommaire / suivant »»
________________


A Bela Adormecida
La belle au bois dormant


Alguém dorme, respira,
Com o frio da mente a debruar-lhe o corpo
E os cegos desejos de si arredados.
Alguém a quem eu não diria palavras
que não fossem tardias e ausentes
como as da poesia.
Alguém que, como tu, me vai esquecer.

Alguém respira, o corpo contra a treva,
as palavras do esquecimento como faúlhas acesas
no coração da morte.
Dorme, silencia
- e quem irá depositar mais palavras
sobre as nossas cinzas?

Inventasse eu a noite, que ainda assim me esquecerias!
Desse-te eu todas as palavras que sobram do fim do
 mundo,
a ternura estremecida, a música mais leve –
- nada poderemos fazer. Deita-te ao meu lado.
O filme parou. As bobines giram no vazio
e só a luz fria arde sobre a tela. Amor que a nenhum
 amado
amor perdoa.
A nenhum amado.
Esta mesma noite tu me irás esquecer.
Une personne dort, respire,
Avec le froid de l’esprit qui ourle son corps
Et les désirs aveugles s'écarte d'elle.
Une personne à qui je ne dirais pas de paroles
qui ne soient tardives ou absentes
comme celles de la poésie.
Quelqu’un qui, comme toi, va m’oublier.

Une personne respire, son corps contre les ténèbres,
les paroles de l’oubli comme au cœur de la mort
de longues flammèches
Dors, silence
– et qui déposera le plus de paroles
sur nos cendres ?

Aurais-je inventé la nuit que tu m'oublierais encore !
Te donnerais-je toutes les paroles qu'il resterait la
 fin du monde,
la tendresse, une musique plus légère –
– On ne peut rien y faire. Allonge-toi près de moi.
Le film s’est arrêté. Les bobines tournent dans le vide
et seule une froide clarté brûle sur l’écran. L’amour n'a
 personne à aimer
L’amour pardonne.
Aucun être à aimer.
Cette nuit même, tu m’oublieras.
________________

Cícero Dias
Femme au balcon (1970)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Adão Ventura (41) Adélia Prado (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (40) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Antônio Brasileiro (1) Antônio Cícero (40) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (112) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (40) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (30) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) Jorge Sousa Braga (40) Jorge de Sena (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Régio (35) José Saramago (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Luis Filipe Castro Mendes (40) Lêdo Ivo (33) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (33) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Mário Cesariny (34) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (483) Pedro Mexia (40) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (292) Pássaro de vidro (52) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)