Os ombros suportam o mundo


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Carlos Drummond de Andrade »»
 
Sentimento do Mundo (1940) »»
 
Italien »»
«« précédent /  Sommaire / suivant »»
________________


Os ombros suportam o mundo
Tes épaules supportent le monde


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue,
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.

Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Il arrive un temps où l'on ne dit plus : mon Dieu.
Temps de l'absolue dépuration.
Temps où l'on ne dit plus : mon amour.
Parce que l'amour résulte de l'inutile.
Et ils ne pleurent pas, tes yeux.
Et elles ne tissent pas le rude labeur, tes mains.
Et ton cœur est sec.

Des femmes en vain, frappent à la porte, tu n'ouvriras pas.
Tu restes seul, la lumière s'est éteinte,
mais dans l'ombre, tes yeux resplendissent, immenses.
Il est certain que tu ne sais plus souffrir.
et n'attends rien de tes amis.

Qu'importe si la vieillesse est là, c'est quoi la vieillesse ?
Tes épaules supportent le monde,
et il ne pèse pas plus que la main d'un enfant.
Les guerres, les famines, les débats dans les bâtiments
prouvent simplement que la vie continue,
et que tous ne sont pas encore libre.
Certains (les délicats) préfèrent
mourir, trouvant le spectacle barbare.

Il arrive un temps où mourir ne vaut plus la peine.
Il arrive un temps où la vie est un ordre.
Rien que la vie, sans mystification.

________________

Giovanni Barbieri dit Le Guerchin
Atlante (1646)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (432) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (250) Reinaldo Ferreira (4) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)