De mãe


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De mãe
De ma mère


O cuidado de minha poesia
aprendi foi de mãe,
mulher de pôr reparo nas coisas,
e de assuntar a vida.

A brandura de minha fala
na violência de meus ditos
ganhei de mãe,
mulher prenhe de dizeres,
fecundados na boca do mundo.

Foi de mãe todo o meu tesouro
veio dela todo o meu ganho
mulher sapiência, yabá,
do fogo tirava água
do pranto criava consolo.

Foi de mãe esse meio riso
dado para esconder
alegria inteira
e essa fé desconfiada,
pois, quando se anda descalço
cada dedo olha a estrada.

Foi mãe que me descegou
para os cantos milagreiros da vida
apontando-me o fogo disfarçado
em cinzas e a agulha do
tempo movendo no palheiro.

Foi mãe que me fez sentir
as flores amassadas
debaixo das pedras
os corpos vazios
rente às calçadas
e me ensinou,
insisto, foi ela
a fazer da palavra
artifício
arte e ofício
do meu canto
da minha fala.
Mon souci de la poésie,
il me vient de ma mère,
une femme qui prenait soin
des choses, et respecter la vie.

La douceur de ma parole
sous la violence de mes mots,
je la tiens de ma mère,
de dictons, femme enceinte,
fécondés dans la bouche du monde.

D'elle, me viennent, tous
mes trésors, tous mes gains,
femme de sagesse, yabá
discrète, du feu elle a tiré l'eau
des pleurs, inventé la consolation.

C'est de ma mère que me vient
cette moitié de rire cachant
toute ma joie
et cette foi méfiante ;
lorsque l'on marche pieds nus,
chaque orteil regarde la route.

C'est ma mère qui m'a dévoilé
les recoins miraculeux de la vie,
m'indiquant le feu déguisé
dans les cendres et l'aiguille du
temps qui bouge dans les foins.

C'est ma mère qui m'a fait sentir
les fleurs écrasées
dessous les pierres.
les corps évidés
rasant les trottoirs
et m'a enseigné,
j'insiste, c'est elle,
à faire du mot
l'artifice
de mon art et le métier
de ma parole
et de mon chant.
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Chris Ofili
Sans titre (2000)
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