Só de sol a minha casa


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Só de sol a minha casa
Rien que du soleil à la maison


  A Adélia Prado, com licença,
  que também sou mineira


Durante muito tempo,
também tive um sol
a inundar a nossa casa inteira,
tal a pequenez do cômodo.

Pelas fendas do machucado zinco,
folhas escaldantes de nosso teto,
invasivos raios confrontavam
pontos de mil quentura.
E jorrantes jatos de fogo
abrasavam o vazio
de um estorricado chão.

Em dias de maior ardência,
minha mãe alquebrava
seu milenar e profundo cansaço
no recorte disforme
de um buraco - janela sem janela –
acontecido no centro de uma frágil parede.
(rota de fuga de uma presa a inventar a
 extensão de um prado)

Eu não sei por que, ela olhava o tempo
e nos chamava para perscrutar
em que lugar morava a esperança.
Olhávamos.
Salvou-nos a obediência.
  à Adélia Prado, permettez,
  je suis aussi du Minas Gerais.


Pendant longtemps
J'ai eu aussi un soleil
inondant toute notre maison,
tant la pièce était petite.

Par les fissures du zinc façon tôlerie,
depuis les feuilles surchauffées de notre toit,
les rayons invasifs étaient confrontés
à mille points chauds.
Et des jets de feu jaillissants
incendiaient le vide
d'une terre roussie.

Les jours de canicule,
ma mère arcboutait
sa millénaire et profonde fatigue
dans la découpe informe
d'un trou - fenêtre sans fenêtre -
survenu au centre d'un mur fragile.
(échappatoire pour une proie inventant
 l'extension d'une prairie)

Je ne sais pourquoi, elle regardait le temps
et nous appelait à examiner de près
le lieu où demeurait l'espoir.
Nous avons regardé.
L'obéissance nous a sauvés.
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Vasily Perov
Enfants endormis (1870)
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