Fêmea-Fênix


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Fêmea-Fênix
Femelle-Phénix


  Para Léa Garcia

Navego-me eu–mulher e não temo,
sei da falsa maciez das águas
e quando o receio 
me busca, não temo o medo,
sei que posso me deslizar 
nas pedras e me sair ilesa,
com o corpo marcado pelo olor
da lama.

Abraso-me eu-mulher e não temo,
sei do inebriante calor da queima
e quando o temor 
me visita, não temo o receio,
sei que posso me lançar ao fogo
e da fogueira me sair inunda,
com o corpo ameigado pelo odor
da chama.

Deserto-me eu-mulher e não temo, 
sei do cativante vazio da miragem,
e quando o pavor 
em mim aloja, não temo o medo,
sei que posso me fundir ao só, 
e em solo ressurgir inteira
com o corpo banhado pelo suor 
da faina.

Vivifico-me eu-mulher e teimo,
na vital carícia de meu cio, 
na  cálida coragem de meu corpo, 
no infindo laço da vida,
que jaz em mim 
e renasce flor fecunda.
Vivifico-me  eu-mulher.
Fêmea. Fênix. Eu fecundo.
  pour Léa Garcia

Moi-femme je navigue et suis sans peur,
je sais la fausse mollesse des eaux
et lorsque l'appréhension
me taraude je n'ai pas peur,
je sais pouvoir me glisser
sous les pierres et m'en sortir indemne,
le corps marqué par l'odeur
de la boue.

Moi-femme je m'embrase et suis sans peur,
je sais l’enivrante chaleur de la brûlure
et lorsque la peur
me visite, je n'ai pas d'appréhension.
je sais pouvoir me lancer dans le feu
et du bûcher ressortir d'eaux couverte
le corps cajolé par l'encens
des flammes.

Moi-femme qui deviens désert, suis sans peur
je sais le vide captivant du mirage,
et lorsque l'épouvante
vient se loger en moi, je n'ai pas peur,
je sais pouvoir m'isoler, me dissoudre
et du sol ressurgir entière
le corps baignait par la sueur
des peines.

Moi-femme je m'avive et m'entête
dans la caresse vitale de mon rut,
dans l'ardent courage de mon corps,
dans le lien éternel de la vie
qui gît en moi
et renaît, fleur féconde.
Moi-femme je m'avive.
Femelle. Phénix. Moi, féconde.
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Elifas Andreato
Clementina de Jesus (1979)
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