Ninguém saberá da secura de nossos olhos...


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Caio Fernando Abreu »»
 
Poesias nunca publicadas de... (2012) - Década de 70 »»
 
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Ninguém saberá da secura de nossos olhos...
Personne ne connaitra la sécheresse...


Ninguém saberá da secura de nossos olhos
da dureza de nossa boca ninguém saberá
do fio das unhas da dor no dente
do sangue guardado no fundo da gaveta

ninguém adivinhará os jardins atrás do muro fechado
ninguém quebrará o ferro do portão
ninguém violentará o secreto
ninguém te tocará profundamente
ninguém te saberá
ninguém.

Por isso olhamos as nuvens
sentados ao vento que não sopra
enquanto os balanços rangem
os rádios cantam
e a rua intocável como um quadro
pintado por outro.

Por isso olhamos em volta
e o que se passa além de nossa [uma palavra ilegível]
não nos soluciona
(ninguém sabe
ninguém saberá).

O caule quebrado do girassol
o livro de Toynbee sobre os degraus
a caneta riscando o papel
as nuvens
a tarde
a rua

o medo.
Personne ne connaitra la sécheresse de nos yeux.
la dureté de notre bouche, personne ne connaitra
le fil de nos ongles la douleur de nos dents
le sang conservé au fond du tiroir
 
personne ne devinera les jardins derrière le mur fermé
personne ne brisera les ferrures de la porte
personne ne violera le secret
personne ne te touchera profondément
personne ne te connaîtra
personne.
 
Aussi nous regardons les nuages
assis face au vent qui ne souffle pas
tandis que grincent les balançoires
que les radios chantent
et la rue intacte est comme un tableau
peint par un autre.
 
Aussi nous regardons autour de nous
et ce qui se passe au-delà de notre [mot illisible]*.
n'a pas de solutions
(personne ne le sait
personne ne le saura).
 
La tige brisée du tournesol
Le livre de Toynbee sur les marches
le stylo crissant sur le papier
les nuages
le soir
la rue
 
la peur.
________________

Vassily Kandinsky
Plusieurs pointes (1925)
...

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