Press to open


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Caio Fernando Abreu »»
 
Poesias nunca publicadas de... (2012) - Década de 70 »»
 
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Estavam ali as portas
janelas e varandas.
Estavam ali
na fronteira do olhar
onde o de dentro encontra
justamente
com o de fora.
 
Nesse ponto exato
elas estavam.
 
Bastava um gesto.
 
Mas o meu estar parado
era maior do que eu.
Estar parado/estar vivo:
a mesma incompreensão
e medo
entre mim e aquele estar das coisas.
 
Estar ali
como nunca ter chegado.
Estar ali
como ter visto absolutamente tudo.
Estar ali
por estar ali.
E além de mim
o que eu não ousava.
 
Ah:
relembro a amplidão dessas varandas
os pequenos raios de luz
nos vidros coloridos das janelas.
Revejo a dura consistência da porta
cerrando seu segredo. E me retomo
ali
no imóvel do gesto que não fiz.
Como se pudesse
agora
escancarar portas e janelas
para sair nu pelas varandas
desvairado e nu
— um profeta, um louco, um santo.
Sair para o vento, o sol, as tempestades,
as neves, as quedas de estrelas e Bastilhas,
o cheiro de jasmins entontecendo os quintais.

(Pudesse retomar manhãs, amigo,
manhãs perdidas como o que não fui.)

Mas continuo
ali.
Aqueles espaços
permanecem tão mortos de mim
como um corpo que se ama
e não se toca.
Elles étaient là les portes
fenêtres et vérandas.
Là juste à la
frontière du regard
où ce qui est dedans rencontre
précisément
ce qui est dehors.

A ce moment précis
elles étaient là.

Il a suffi d'un geste.

Mais mon être était arrêté
il était plus grand que moi.
Être arrêté / être vivant :
la même incompréhension
et la peur
entre moi et cet être des choses.

Être là
comme jamais cela n'arrive.
Être là
quand on a vu absolument tout.
Être là
pour être là.
Et au-delà de moi
sans que je l'ai jamais osé.

Ah :
Je me souviens de l'étendue de ces vérandas
les petits rayons de lumière
dans les vitres colorées des fenêtres.
Je me souviens de la rude consistance de la porte
renfermant son secret. Et je retourne

dans l'immobilité du geste absent.
Comme si je pouvais
maintenant
ouvrir grand, portes et fenêtres
Sortir nu sous les vérandas
nu et délirant
— un prophète, un fou, un saint.
Sortir dans le vent, sous le soleil, les tempêtes,
les neiges, les étoiles filantes et les Bastille,
l'odeur du jasmin étourdissant dans les courtils.

(Puisse-je retrouver pareils matins, mon ami,
matins perdus comme il y en eu jamais.)

Cependant je suis
là.
Dans ces espaces
morts demeurant si loin de moi
Comme un corps qui s'aime
sans se toucher.
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Gianfranco Ferroni
Porte fermée (1974)
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