O jovem mágico


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O jovem mágico
Il giovane mago


O jovem mágico das mãos de ouro
que a remar não se cansa muito
e olha muito depressa (como se fosse de moto)
veio hoje ficar a minha casa
 
Vivia longe já se sabia
tão longe que era absurdo querer determinar
Metade campo     metade luz
aí era a sua casa     o sítio onde era longe.
 
Mesmo de olhos fechados (como ele estava)
e de braços cruzados (como parecia dormir)
o jovem mágico das mãos de ouro
que era todo de empréstimo à minha boite
 
que falou por acaso     que nem se chamava assim
(segundo também contou) tinha vivido há muito
ele, que estava ali, era um falsário
um fugido de outro basta ver os meus olhos
 
nada sabemos de nós a não ser que chegámos
sem uma luz a esconder-nos o rosto
belos e apavorados     de estranhos casacos vestidos
altos de meter medo às aves de longo curso

nem há noites assim     não há encontros
ao longo das enseadas
não há corpos amantes não há luzeiros de astros
sob tanto silêncio     tão duradoura treva

e não me fales nunca eu sou surdo eu não te oiço
eu vou nascer feliz numa cidade futura
eu sei atravessar as fronteiras das coisas
olha para as minhas mãos     que te pareço agora?
 
No entanto surgiu como simples criança
conseguia sorrir     sentar-se     verter águas
com as mãos na cintura     livre     natural
ele que era um fantasma     um fugido de outro
 
um que que nem mesmo se chamava assim
o jovem mágico das mãos de ouro
desaparecido nu de todos os sítios da Terra.

Le jeune magicien aux mains d'or
qui ne se fatigue pas trop pour ramer
et paraît très pressé (comme on passe à moto)
est venu me voir aujourd'hui chez moi

Il habitait loin on le sait déjà
si loin qu'il était absurde de vouloir le déterminer
Moitié champs     moitié lumière
telle était sa maison     si loin, le lieu où il vivait.

Même avec les yeux fermés (comme il était)
et les bras croisés (comme il semblait dormir)
le jeune magicien aux mains d'or
qui était tout d'emprunt auprès de ma boutique

qui parlait à l'occasion     ne portait pas le nom qu'il avait
(d'après ce que l'on dit ) et avait beaucoup vécu
celui, qui était là, était un faussaire
l'échappé d'un autre "il suffit de voir mes yeux"

nous ne savons rien de nous sauf si nous sommes arrivés
sans une lumière pour nous cacher le visage
beaux et affolés     par d'étranges manteaux revêtus
hauts relevés à faire peur aux oiseaux de long cours

il n'y a pas de nuits ainsi     pas de rencontres
au long des criques
pas de corps d'amants pas de lueurs d'astres
sous autant de silence     une obscurité si durable

et ne me parle plus jamais Je suis sourd, je ne t'écoutes pas
Je vais renaître heureux dans une cité future
Je sais comment franchir les limites des choses
regarde mes mains     de quoi ai-je l'air maintenant ?

Pourtant, il avait surgi simple comme un enfant...
pouvait sourire     s'asseoir     verser de l'eau
les mains sur la taille     libre     naturel
lui qui était un fantôme     l'échappé d'un autre

un qui qui même ne portait pas le nom qu'il avait
le jeune magicien aux mains d'or
a disparu nu de tous les endroits de la Terre.

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Joan Miró
Le grand mage (1968)
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