You are welcome to Elsinore


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You are welcome to Elsinore
You are welcome to Elsinore


Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte   violar-nos   tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas   portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
 
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
 
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
 
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar

Entre nous et les mots, il y a du métal en fusion
entre nous et les mots il y a des hélices qui tournent
et peuvent nous donner la mort. . . nous violer. . . extraire
du plus profond de nous le secret le plus utile
entre nous et les mots il y a des profils brûlants
des espaces pleins de gens le dos tourné
de hautes fleurs vénéneuses. . . des portes à ouvrir
et des escaliers des aiguilles et des enfants assis
à espérer de leur temps et de son précipice

Au long de la muraille où nous habitons
il y a des paroles de vie il y a des paroles de mort
il y a d'immenses paroles qui nous attendent
et d'autres, fragiles, qui ont cessé d'attendre
il y a des paroles incendiaires comme des navires
Et il y a des paroles d'hommes, des paroles qui gardent
leur secret et leur position

Entre nous et les mots, insidieusement,
Les mains et les murs d'Elseneur

Et il y a des mots nocturnes, des mots qui gémissent
des mots illisibles qui nous montent à la bouche
des mots diamants des mots jamais écrits
des mots impossibles à écrire
pour ne pas avoir avec nous les cordes d'un violon
ni tout le sang du monde ni tout l'embrassement de l'air
et les bras des amoureux écrivent beaucoup plus fort
bien au-delà de l'azur où ils meurent oxydés
des mots maternels ombre seulement hoquet
spasmes seulement amour solitude seulement outragée

Entre nous et les mots, les emmurés
et entre nous et les mots, notre devoir de parole

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Ana Teresa Ascenção
You Are Welcome to Elsinore (2010)
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