Tantos pintores...


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Tantos pintores...
Tant de peintres...


Tantos pintores... A realidade, comovida, agradece
mas fica no mesmo sítio (daqui ninguém
me tira) chamado paisagem
Tantos escritores
 
A realidade, comovida, agradece
e continua a fazer o seu frio
sobre bairros inteiros na cidade
e algures
Tantos mortos
no rio
A realidade, comovida, agradece
porque sabe que foi por ela o sacrifício
mas não agradece muito
Ela sabe que os pintores
os escritores
e quem morre
não gostam da realidade
querem-na para um bocado
não se lhe chegam muito pode sufocar
Só o velho moinho do acordeon da esquina
rodado a manivela de trabuqueta
sem mesura sem fim e sem vontade
dá voltas à solidão da realidade

Tant de peintres... Émue, la réalité dit merci mais reste
au même endroit (personne ne m'enlève d'ici)
appelé paysage
Tant d'écrivains

Émue, la réalité dit merci
et continue de répandre le froid
sur des quartiers entiers de la ville
et ailleurs
Tant de morts
dans le fleuve
Émue, la réalité dit merci
car elle sait que pour elle ce fut un sacrifice
mais elle ne remercie pas vraiment
Elle sait que les peintres
les écrivains
et ceux qui meurt
n'aime pas la réalité
mais la réclame encore un peu
si elle est insuffisante elle peut faire suffoquer
Seul le vieux moulin de l'accordéon du quartier
qui fait tournoyer sa manivelle à soufflets
sans mesure sans fin et sans volonté
ramène à la solitude de la réalité

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Egisto Lancerotto
École de peinture (1886)
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