Não se mate


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Carlos Drummond de Andrade »»
 
Brejo das almas (1934) »»
 
Italien »»
«« précédent /  Sommaire / suivant »»
________________


Não se mate
Ne te tue pas


Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanha não beija,
depois de amanha é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
Amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.

Doucement Carlos, l'amour,
il est ce que tu vois :
Aujourd'hui tu embrasses, demain non,
après-demain, c'est dimanche
et lundi personne ne peut savoir
ce qu'il en sera.

Inutile de résister
ou pire de se suicider
Ne pas se tuer, ne pas se tuer,
garde ça pour les
noces dont personne ne sait
quand elles viendront,
si elles viennent.

L'amour, Carlos, est tellurique
en toi, la nuit en toi est passée
avec ses inhibitions sublimes,
là, dedans, cette rumeur ineffable,
de prières,
de porte-voix,
de saints qui font le signe de croix,
de publicités pour le meilleur savon,
bruit dont on ne sait de quoi
il est fait fait, ni pourquoi.

Cependant tu t'avances
vertical et mélancolique.
Tu es la palme, tu es le cri
que personne n'a entendu au théâtre
et toutes les lumières s'éteignent.
L'amour dans le noir, non dans la clarté,
est toujours triste, Carlos, mon fils
mais ne dis rien à personne,
personne ne sait ni ne le saura.

________________

Nicola Figlia
Memoires (2019)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (19) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (429) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (248) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)