Águas da serra


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João Guimarães Rosa »»
 
Magma (1936-1997) »»
 
Italien »»
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Águas da serra
Les eaux de la montagne


Águas que correm,
claras,
do escuro dos morros,
cantando nas pedras a canção do mais-adiante,
vivendo no lodo a verdade do sempre-descendo...
Águas soltas entre os dedos da montanha,
noite e dia,
na fluência eterna do ímpeto da vida...
Qual terá sido a hora da vossa fuga,
quando as formas e as vidas se desprenderam
das mãos de Deus,
talvez enquanto o próprio Deus dormia?...
E então, do semi-sono dos paraísos perfeitos,
os diques se romperam,
forças livres rolaram,
e veio a ânsia que redobra ao se fartar,
e os pensamentos que ninguém pode deter,
e novos amores em buscas de caminhos,
e as águas e as lágrimas sempre correndo,
e Deus talvez ainda dormindo,
e a lua a avançar, sempre mais longe,
nos milênios de treva do sem-fim...
Eaux vives,
et claires,
de l'obscurité des mornes,
chantant sur les pierres la chanson du plus-avant,
dans la boue, à vivre la vérité du toujours-descendre...
Eaux libres entre les doigts de la montagne,
nuit et jour,
dans l'abondance éternelle de l'élan de la vie...
Quelle aura été l'heure de votre fuite,
lorsque les formes et les vies se détachèrent
des mains de Dieu,
peut-être pendant que Dieu lui-même dormait ?...
Et puis, du demi-sommeil des paradis parfaits,
les digues se sont rompues,
les forces libres ont déboulé,
et l'angoisse est venue qui redouble quand on se lasse,
et les pensées que personne ne peut retenir
et de nouvelles amours en quête de leur chemin,
et les eaux et les larmes qui coulent toujours,
et peut-être Dieu qui dort encore,
et la lune s'avançant, toujours plus loin,
en des millénaires de ténèbres sans-fin...
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Vladimir Kush
Ocean Sprouts (2002)
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