tristão e iseu


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Vasco Graça Moura »»
 
O Caderno da Casa das Nuvens (2010) »»
 
Italien »»
«« précédent /  Sommaire / suivant »»
________________


tristão e iseu
tristan et yseult


dantes até me vinham as lágrimas aos olhos
quando ouvia louis armstrong a cantar
st. james infirmary, aquela marcha fúnebre
a que já aludi há muito tempo, tão sombria, tão pungente,
tão desarmada e triste. já falei disso, sim, e
agora ocorre-me outra vez, nem eu sei bem porquê,
nesta penumbra anoitecida, como um pólen de surdinas
que escorressem das nuvens. e sei que me faz
sentir como se levasse um aperto no coração e
um ramo de flores, um ramo
de frágeis comissuras de ciclamen
e pétalas furtivamente humedecidas, tão pálidas
e azuladas, tão repassadas de tempo e pouca sorte,
nesse compasso rouco para a morte de amor:
so cold, so sweet, so fair,
deixai passar, deixai passar, onde quer que eles
estejam nunca houve amor assim,
iseu crepuscular, tristão desamparado,
ambos morrendo por de nada ter valido.
avant j'avais même les larmes aux yeux
lorsque j'entendais Louis Armstrong chanter
st. james infirmary, cette marche funèbre
dont j'ai parlé autrefois, si sombre, si poignante,
si désarmante et triste. j'en ai déjà parlé, oui,
cela me revient, maintenant et je ne sais pas bien pourquoi,
dans cette pénombre crépusculaire, comme un pollen
de sourdines ruisselant des nuages. et j'ai l'impression
d'avoir au cœur un pincement et un bouquet
de fleurs, un bouquet de fragiles
commissures de cyclamens
et de pétales furtivement humides, si pâles
et bleutés, si détrempés par le temps et la malchance,
dans cette cadence rauque vers la mort de l'amour :
so cold, so sweet, so fair,
laissez passer, laissez passer, où qu'ils soient,
il n'y a jamais eu d'amour ainsi,
yseult crépusculaire, tristan désemparé,
mourant tous les deux de n'avoir rien vécu.
________________

Rogelio de Egusquiza
La mort de Tristan et Yseult (1910)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (106) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (435) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (252) Reinaldo Ferreira (21) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)