Em tempo alheio


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Gastão Cruz »»
 
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Em tempo alheio
D'un autre temps


Peço desculpa de ser
o sobrevivente.
Drummond, As Impurezas do branco
Demasiados mortos para a
minha memória
O dia está aí um projetor nos rostos
que repetem
cenas, deslocando-se entre os móveis
polidos pelos anos e as árvores, com falas retardadas
Não há quem sobreviva a ninguém no cenário
são somente aparências o que está
e o que falta,
todos em cada um,
enquanto ausentes o habitam como casa
em tempo alheio
Deixastes toda a esperança vós que entrastes
na memória
Je suis désolé d'être
le survivant.
Drummond, As Impurezas do branco 1
Il y a trop de morts pour
ma mémoire
Le jour est un projecteur sur des visages
qui reproduisent
des scènes, en se déplaçant parmi les meubles
polis par les ans et les arbres, avec des répliques décalées.
Il n'y a personne qui survive à personne dans ce scénario
seules les apparences sont ce qui est
et ce qui manque,
à tous et à chacun,
tandis que les absents y habitent comme dans une maison
d'un autre temps...
Perdez toute espérance vous qui êtes entrés
dans ma mémoire.
________________

Cândido Portinari
Carlos Drummond de Andrade (1936)
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