Improviso para Frederico


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Improviso para Frederico
Improvisation pour Frédéric


Dentro do teu sonho - o violoncelo -
com seus graves e belos lamentos.
A música que Schopenhauer pensou
como a linguagem da vontade
na representação do mundo.
E que pulsava dentro da tua alma
sem que eu nada percebesse.
Ainda que fóssemos parecidos
na aparência e nos gestos,
pois quem te olhar caminhando
na rua, em qualquer rua,
e me conhecer um pouco,
saberá que caminho contigo,
no próprio passo do teu corpo.
Pai e filho, nesta vida,
estamos ligados por mil fios.
Eu quase nada sei,
mas fico pensando onde começamos,
em que livro improvável
tudo estaria escrito nos detalhes,
desde o início dos tempos.
Nas terras distantes dos teus avós,
com pessoas e línguas diferentes,
que nem posso imaginar completamente.
E que se estendem da Fenícia ao mar Tirreno,
dos áridos desertos às verdes planícies,
com seus ocasos de incêndio
e estranhas miragens.
E que os nosssos mortos viram,
onde por séculos viveram,
e geraram os filhos
e os folhos dos filhos dos filhos
de nossos ancestrais,
para que desses instantes sucessivos,
e desses seres longinquos,
sem que um só elo se perdesse,
eu fosse o teu pai, Frederico,
e fosses o meu único filho.
Dedans ton rêve – le violoncelle –
avec ses lamentations belles et graves.
La musique que Schopenhauer considérait
comme le langage de la volonté
dans la représentation du monde.
Et qui pulsait dedans ton âme
sans que je m'en aperçoive.
Bien que nous soyons semblables
d'apparence et par nos gestes,
celui qui te regarde marcher
dans la rue, une rue quelconque
et me connait un peu
saura que je marche auprès de toi
au rythme même de ton corps.
Père et fils, dans cette vie,
nous sommes liés par des milliers de fils.
Et moi, qui ne sais presque rien,
je me demande où nous avons commencé,
dans quel livre improbable
tout serait écrit dans les moindres détails,
depuis l'aube des temps.
Sur les terres lointaines de tes aïeux,
avec des gens en, des langues différentes
que je ne peux m'imaginer complétement.
Et qui s'étendent de la Phénicie à la mer Tyrrhénienne,
des déserts arides aux vertes plaines,
avec leurs couchers de soleil ardents
et d'étranges mirages.
Et ce que nos morts ont vu,
où ils ont vécu pendant des siècles
et engendré les fils
et les fils des fils des fils
de nos ancêtres,
de sorte que de ces instants successifs,
et de ces êtres éloignés,
sans qu'un seul maillon ne se perde,
je sois ton père, Frédéric,
et que tu sois mon fils unique.
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Oskar Kokoschka
Portrait de Pablo Casals (1954)

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