Estou vivo mas...


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Estou vivo mas...
Je suis vivant mais...


Estou vivo
mas quero viver
Não quero salvar-me porque não posso salvar-me
porque a salvação não existe
Perdi o meu percurso
e tudo o que herdei de mim próprio
No mundo as palavras não compensam
a violência absurda do sofrimento
Na página elas podem ser a invenção
de um frémito perante um corpo nu
É na palavra que se acende a minha vida
mas a minha vida sobra sempre como uma cauda cinzenta
Por que é o infortúnio a norma
e não há resgate para a morte?
O mundo é estranho mas irrefutável
na sua contínua sucessão que nos transcende
e passa sobre nós como se não existíssemos
Teremos acaso que nos unir e reinventar as nossas vidas
para que os deuses nasçam do nosso desamparo?
O silêncio conduz-nos à sua infinita fronteira
mas o ócio iluminado pode vogar na casa
como se estivéssemos entre palmeiras e araucárias
Toda a viagem é um regresso ao ponto de partida
para partir de novo entre a água e o vento

Je suis vivant
mais je veux vivre
Je ne veux pas me sauver car je ne peux pas me sauver
parce que le salut n'existe pas
J'ai perdu ma voie
et tout ce dont j'ai hérité de moi-même
Les mots dans le monde, ne compensent pas
la violence absurde de la souffrance
Sur la page ils peuvent être l'invention
d'un frémissement auprès d'un corps nu
Ma vie s'éclaire à travers la parole
mais laisse toujours derrière elle une trainée maussade
Pourquoi la guigne et l'absence de rançon
pour la mort sont-ils la norme ?
Le monde est étrange mais irréfutable
dans sa continue succession qui nous transcende
et nous dépasse comme si nous n'existions pas
Faudra-t-il au hasard nous unir et réinventer nos vies
pour que naissent de notre désarroi les dieux ?
Le silence nous conduit à sa frontière infinie
mais le loisir éclairé peut déambuler dans la maison
comme si nous étions entre palmiers et araucarias
Tout le voyage est un retour au point de départ
qui à nouveau repart entre l'eau et le vent

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Tiziano Vecellio (Le Titien)
Sisyphe (1549)

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