Origem


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Origem
Origine


É preciso queimar os livros e calarmo-nos
Esta é a matéria bárbara a matéria viscosa
Aqui a vida conduz a uma ruptura
a mão procura a suavidade firme
tacteia e segue as suas linhas de força as primícias
[de um acorde

Fascinante ameaça
veneno que oculta vida nova
uma seiva já
um sabor dos gestos que tremem e que sabem

A palavra mais viva é a mais inesperada é a palavra nua

Eis o domínio interdito e obscuro
impenetrável
balbuciante memória do que não é a memória
luz que irriga as coisas em vez de de as iluminar
sinal de uma madrugada de uma irradiação múltipla
Aqui começará o meu ritmo a minha melodia
Respiro já pela garganta do poema

Deixamos a segurança e a certeza
ante o arco da única pergunta
Somos a ruptura e o fluxo na falha
e subimos talvez para
a vertente de um silêncio que ascende constelado

Subversiva é a respiração desta palavra
surpresa de um ritmo e de um espaço
numa terra sem caminho

É um fogo líquido que abrasa este trajecto
Uma fé muscular uma fé lúcida
faz latir estas palavras subterrâneas

Para chegar às palavras que dão vida
por um desenlace uma inconfessável evidência
Uma plenitude? Uma luz? Uma pobreza?
Numa terra queimada as crianças que brincam na poeira
Eis a poesia do efémero a fluidez vivaz
Pára detém-te junto deste muro arruinado
perto de uma pedra Palpa o grão de luz
segregada Toca nessa crepitação porosa
Modela na origem a matéria dos sinais

Escreve mas para dissipar o que está escrito

Il nous faut brûler les livres et nous taire
C'est un matériau barbare et visqueux
Ici la vie conduit à une rupture
la main cherche la douceur affermi
tâtonne et suit ses lignes de force les prémisses
[d'un accord

Fascinante menace
venin qui dissimule une vie neuve
une sève déjà
un avant-goût des gestes qui tremblent et qui savent

Plus vivante est la parole plus inattendue, la parole nue

Voici le domaine interdit et obscur
impénétrable
mémoire balbutiante de ce qui n'est pas la mémoire
lumière qui irrigue les choses au lieu de les illuminer
signe d'une aube d'une irradiation multiple
Ici va commencer mon rythme ma mélodie
Je respire déjà par la gorge du poème

Nous quittons la sécurité et la certitude
avant l'arc de la seule interrogation
Nous sommes la rupture et le flux dans la faille
et nous montons peut-être par
le versant d'un silence qui s'élève constellé

Subversif est le souffle de cette parole
surprise d'un rythme et d'un espace
dans un pays sans chemin

C'est un feu liquide qui embrase cette route
Une foi musclée une foi lucide
qui fait aboyer ces paroles souterraines

Pour atteindre les mots qui donnent la vie
par un dénouement une preuve inavouable
Une plénitude ? Une lumière ? Une pauvreté ?
Sur une terre brûlée, des enfants jouent dans la poussière
Voici la poésie de l'éphémère la fluidité vivace
Arrête, arrête-toi près de ce mur en ruine
près d'une pierre Palpe le grain de la lumière
sécrétée Touche à ce craquement poreux
Modélise dans l'origine la matière des signes

N'écrit que pour dissiper ce qui est écrit

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Vincent van Gogh
Paysan brûlant des mauvaises herbes (1883)

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