Árvores


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António Ramos Rosa »»
 
No Calcanhar do Vento (1987) »»
 
Italien »»
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Árvores
Arbres


O que tentam dizer as árvores
no seu silêncio lento e nos seus vagos rumores,
o sentido que têm no lugar onde estão,
a reverencia, a ressonância, a transparência
e os acentos claros e sombrios de uma frase aérea.
E as sombras e as folhas são a inocência de uma ideia
que entre a água e o espaço se tornou uma leve integridade.
Sob o mágico sopro da luz são barcos transparentes.
Não sei se é o ar se é o sangue que brota dos seus ramos.
Ouço a espuma finíssima das suas gargantas verdes.
Não estou, nunca estarei longe desta água pura
e destas lâmpadas antigas de obscuras ilhas.
Que pura serenidade da memória, que horizontes
em torno do poço silencioso! É um canto num sono
e o vento e a luz são o hálito de uma criança
que sobre um ramo de árvore abraça o mundo.
Qu'essaient de dire les arbres
dans leur lent silence et leurs vagues rumeurs,
ce sentiment qu'ils ont du lieu où ils sont,
la révérence, la résonance, la transparence
et les accents clairs et sombres d'une phrase aérienne.
Et les ombres et les feuilles ont l'innocence d'une idée
qui est devenue entre l’eau et l’espace une légère intégrité.
Sous le souffle clair et magique sont des barques transparentes.
Est-ce de l'air ou du sang qui nait de leurs branches.
Mousse que j'entends si fine dans leurs gorges vertes.
Je ne suis, je ne serai jamais loin de cette eau pure
et de ces antiques lampes des îles obscures.
Quelle sérénité de mémoire, quels horizons
autour du puits silencieux ! C'est un chant du sommeil
et le vent et la lumière sont l'haleine d'un enfant
qui sur une branche d'arbre embrasse le monde.
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Vincent van Gogh
Le mûrier (1889)

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