Antropoceno


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Adriane Garcia »»
 
Estive no fim do mundo e me lembrei de você (2019) »»
 
Italien »»
«« précédent / Sommaire / suivant »»
________________


Antropoceno
Anthropocène


Está parecendo que eu odeio a humanidade
Desde que vi as morsas caindo de montanhas
Em que nunca deveriam ter subido
As morsas quicando
Uma, duas, três vezes e caindo estateladas
No meio da multidão de morsas
 
Na costa da Rússia, eu que nunca estive lá
Chorei como quem passava a amar somente os bichos
E as plantas que cultivo no meu apartamento
Sob um pedacinho de sol
Que os arquitetos deixaram por compaixão
Ou por esquecimento
 
Soube então que faltavam geleiras às morsas
E que elas agora se viravam nas pedras
Amontoadas, que algumas subiam as montanhas e
O resultado já disse
Elas caem e fica parecendo que eu
Odeio a humanidade
 
Como se eu não soubesse que gente
Também é bicho
Como se eu não entendesse que é preciso amar
A minha própria espécie
Fica parecendo que eu não compreendo
Que nós caímos quando a morsa cai.

Il semblerait que je déteste l'humanité
Depuis que j'ai vu des morses tomber de montagnes
Où ils n'auraient jamais dû grimper
Des morses rebondissant
Une fois, deux fois, trois fois et tombant à plat
Au milieu d'une multitude de morses

Sur les côtes de la Russie, moi qui n'y suis jamais allé
J'ai pleuré comme ceux qui n'aiment plus que les animaux
Et les plantes cultivés dans son propre appartement
Sous un petit coin de soleil
Que les architectes laissèrent par compassion
Ou par oubli

J'ai su alors qu'il manquait des glaciers pour les morses
Et qu'ils se tournaient maintenant vers les roches
Amoncelées, que certains grimpaient sur les montagnes et
Le résultat je l'ai déjà dit
Est qu'ils tombent, et moi il semble
Que je déteste l'humanité

Comme si je ne savais pas que les gens
Sont aussi des animaux
Comme si je ne comprenais pas qu'il faut aimer
Sa propre espèce
Il semblerait que je n'arrive pas à comprendre
Que nous tombons quand le morse tombe.

________________

Albrecht Dürer
Morse (1521)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (106) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (435) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (252) Reinaldo Ferreira (22) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)