Amáveis (de amar)


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Amáveis (de amar)
Aimables (d'amour)


D. Fuas o gato de Jorge de Sena e
Coral o gato de Sophia ou
a gata Maravilhas de
João Miguel Fernandes Jorge e os
de tantos outros como Baudelaire ou Eliot,
amáveis (de amar) mas ferozmente
independentes, olham-nos
dos poemas com aquelas luzentes e atentas
contas de vidro (podia aqui comparar com ágatas
ou opalas, mas não quero entrar
no joalheiro).

Eles são talvez os mais puros
aristocratas entre os animais de companhia.
Tratam do próprio pêlo com minuciosos cuidados,
mesmo que não tenham casa certa e
até na extrema míngua conservam
uma distante prudência e unhas afiadas
de quem não se vende facilmente.
E é tanta a sua generosa fidalguia
que nunca desprezam a mão assídua
que lhes afaga o dorso e partilha
o sedentário desprezo do mundo,
mesmo doente velha ou caída em desgraça.

D. Fuas le chat de Jorge de Sena et
Coral le chat de Sophia ou
la chatte Maravilhas de
João Miguel Fernandes Jorge et ceux
de tant d'autres comme Baudelaire ou Eliot,
aimables (d'amour) mais farouchement
indépendants, ils nous regardent depuis
leurs poèmes avec ces luisantes et attentives
perles de verre (je pourrais ici les comparer à des agates
ou des opales, mais je ne veux pas discuter
joaillerie).

Ils sont peut-être les plus purs
aristocrates parmi les animaux de compagnie.
traitant leur propre fourrure avec un soin méticuleux,
même s'ils n'ont pas de maison où s'abriter, et
même dans la plus extrême misère, ils conservent
la prudence distante et les ongles acérés
de ceux qui ne se vendent pas facilement.
Et telle est leur généreuse noblesse
qu'ils ne méprisent jamais la main assidue
qui leur caresse le dos et partage
un mépris sédentaire du monde,
même lorsqu'ils sont malades, âgés ou tombés en disgrâce.

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Thomas Gainsborough
Six études de chat (1765-1770)
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