Zoologia fantástica: um casal clandestino


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Zoologia fantástica: um casal clandestino
Zoologie fantastique : un couple clandestin


São criaturas cegas que, avistadas,
Se tentam dissolver em desespero,
Mas a tensão apenas lhes quebra
Os membros – os seus ossos semelham cálamos –,
Pelo que ficam indefesos e imóveis.
Em certos casos, quando são avistadas,
O calor explode-lhes no corpo.
Depois, rompem-lhes hemorragias oculares,
Enquanto uma necrose fotossensível
Se apodera de cada célula,
Que cai sem resistência.
A sua esperança de vida é curta
(Raro sobrevivem ao primeiro cio),
Parecem ter apenas sangue de Verão.
São criaturas que não suportam
Ser imagens, e disso morrem.
Diz-se que só vêem o seu último instante.
São seres lacunares.
Finda a autópsia, levantam-se e vão.

Ce sont des créatures aveugles qui, aperçues,
Essaient de se dissoudre dans le désespoir,
Mais la tension ne fait que leur briser
Les membres - leurs os ressemblent à des calames -,
Aussi restent-elles immobiles et sans défense.
Dans certains cas, lorsqu'on les aperçoit,
La chaleur explose dans leur corps.
Et des hémorragies oculaires éclatent en elles,
Tandis qu'une nécrose photosensible
S'empare de chaque cellule,
Qui tombe sans résistance.
Leur espérance de vie est courte
(Elles survivent rarement aux premières chaleurs),
Elles semblent n'avoir que du sang d'été.
Ce sont des créatures qui ne supportent pas
D'être des images, et elles en meurent.
On dit qu'elles ne voient que leur dernier moment.
Ce sont des êtres lacunaires.
Qui, après l'autopsie, se lèvent et s'en vont.

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Judy Chicago
Retour des papillons (2008)
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