Anonymus


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Anonymus
Anonymus


Não me tragas um poema
de sentidos inócuos, nem engenharias gráficas a ocupar
a página. Afasta-te dos bons sentimentos, das
mansas paisagens com asas de permeio
ou brancas flores de salgueiro. Modela o barro
das palavras como um artesão anónimo
inventa a própria ferramenta
a ferir os dedos
na proximidade da pedra

E não incandesças no ludíbrio
do amor. Esse também pouco vale
mais que um mero espelho, se
a ti próprio procuras possuir ou vencer
em quem julgas amar

Nem me fales da luz dos deuses,
que já envelheceram
há milhares de galáxias
caídos na demência senil
e caídos nós nesta orfandade sem mistério

No dia paralelo ao
teu nascimento, decerto transporás
a porta das horas pela derradeira vez
ciente por fim da vacuidade
dos versos onde te escondeste.

Ne m'apporte pas de ces poèmes
aux propos anodins, ou d'une ingénierie graphique faite
pour occuper la page. Éloigne-toi des bons sentiments, des
paysages apaisés emplis d'ailes
ou de blanches fleurs de saule. Façonne l'argile
des mots comme un artisan anonyme
invente son propre outil
pour éprouver du bout des doigts
la proximité de la pierre

Et surtout ne t'enflamme pas d'un amour
dérisoire. Une oeuvre ne vaut guère
plus qu'un simple miroir, si
toi-même cherches à posséder ou à vaincre
celle que tu crois aimer

Ne me parle pas de la lumière des dieux,
ils ont vieilli, depuis tout
ce temps, des milliers de galaxies
sont tombés dans la démence sénile
et nous, dans cet orphelinat sans mystère

Un jour parallèle à
ta naissance, sois en certain, tu franchiras
la porte des heures une dernière fois,
enfin conscient de la vanité
des vers où tu t'es caché.

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Gonçalo Mabunda
Rêve (2007)
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