Babilônia


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Ruy Espinheira Filho »»
 
Babilônia & outros poemas (2017) »»
 
Italien »»
«« précédent / Sommaire / suivant »»
________________


Babilônia
Babylone


  Ontem não vi você em Babilônia
  Num fragmento de argila, em escrita cuneiforme,
  cerca de 3.000 anos a.C.

Ao saber da notícia, revivi
aquela noite funda em que escrevi
(afogava-me um pântano de insónia):

Ontem não vi você em Babilônia.

Só o que restou de tudo: um fragmento
de tabuinha que escapou do vento
do Tempo. Sob o pó, pulsando, a insônia:

Ontem não vi você em Babilônia.

Foi a última vez que lhe escrevi
e nenhuma resposta recebi.
Ainda respiro o que chorei na insônia:

Ontem não vi você em Babilônia.

Os arqueólogos me decifraram
e, milênios além, se emocionaram,
por ser só amor e dor a voz da insônia:

Ontem não vi você em Babilônia.

Era o bastante. O Tempo na tabuinha
quase tudo apagou da história minha,
porém deixou o essencial da insônia:

Ontem não vi você em Babilônia.

E assim contam-se vida e seus escombros
que um dia se partiram nos meus ombros.
E na alma, desde então, só noite e insônia:

Ontem não vi você em Babilônia.
  Hier, je ne vous ai pas vu à Babylone
  sur un fragment d’argile, en écriture cunéiforme,
  environ 3000 ans avant J.-C.

En apprenant la nouvelle, j’ai revécu
cette nuit profonde en laquelle j’écrivais
(me noyant dans un marais d'insomnies) :

Hier, je ne vous ai pas vu à Babylone.

Tout ce qu'il en reste : un fragment
d’une tablette qui échappa au vent
du Temps. Sous une poudre, pulsant, l’insomnie :

Hier, je ne vous ai pas vu à Babylone.

Ce fut la dernière fois que je lui écrivais
et je ne reçus aucune réponse.
J'en respire encore les pleurs de l'insomnie :

Hier, je ne vous ai pas vu à Babylone.

Les archéologues m’ont déchiffré
et, par-delà des millénaires, ils furent émus,
car elle est amour et douleur la voix de l’insomnie

Hier, je ne vous ai pas vu à Babylone.

Il suffisait que le Temps sur la tablette
effaça presque tout de mon histoire,
cependant, il laissa l’essentiel de l’insomnie :

Hier, je ne vous ai pas vu à Babylone.

Et se raconte ainsi la vie et ses décombres
qui un jour sont tombés de mes épaules.
Et depuis, dans mon âme, il n'y a que nuit et insomnie :

Hier, je ne vous ai pas vu à Babylone.
________________

RG
Insomnie (2014)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (106) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (435) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (252) Reinaldo Ferreira (22) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)