Tempo perdido


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Ruy Espinheira Filho »»
 
Heléboro (1974) »»
 
Italien »»
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Tempo perdido
Temps perdu


No tempo perdido
deslizo à sombra
da árvore, sobre a
música do rio.

No tempo perdido
tudo é cintilância:
no luar, nos copos,
nos teus lábios úmidos.

No tempo perdido
cantam as alviaves
e me amas na areia
de uma praia anônima.

Ó tempo perdido,
como em ti sou rico,
maduro de viagens
e multilustrado!

Só teu universo
feito do não feito
nos dá o melhor
que há no factível.

Tomando o teu barro
nossos dedos moldam
como angelizados
um mundo ideal.

(Na tua verdade
uma outra história:
nós temos as mãos
repletas mas puras.)

Assim, pairo à sombra
da árvore, sobre a
música do rio,
computando nuvens;

conversando flores,
seixos, reflexos;
logo esporeando
um galope mágico

No tempo perdido
recupero, enfim,
tudo o que perdi
no meu tempo ganho.
Dans le temps perdu
je glisse à l’ombre
de l’arbre, sur la
musique du fleuve.

Dans le temps perdu
tout est scintillement :
au clair de lune et dans les coupes,
sur tes lèvres humides.

Dans le temps perdu
chantent les oiseaux blancs
Et tu m’aimes sur le sable
d’une plage anonyme.

Ô temps perdu,
combien de toi je suis riche,
mûri de voyages
et multi-historié !

Seul ton univers
fait de non fait
nous donne le meilleur
de ce qui est faisable.

Prenant ton argile
nos doigts modèlent
comme angélisés
un monde idéal.

(Dans ta vérité
une autre histoire :
nous avons les mains
comblées mais pures.)

Alors je plane à l’ombre
de l’arbre, sur la
musique du fleuve,
en calculant des nuages;

en parlant de fleurs,
cailloux, reflets ;
bientôt sporadiquement
un galop magique

Dans le temps perdu
je récupère enfin,
tout ce que j’ai perdu
dans mon temps gagné.
________________

Franz Marc
Paysage avec cheval (1910)
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