O avô


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Ruy Espinheira Filho »»
 
Morte secreta e Poesia anterior (1976-1984) »»
 
Italien »»
«« précédent / Sommaire / suivant »»
________________


O avô
Le grand-père


1.
O avô descansa
de quase um século.
O rosto é sereno
(não sei como pode
mostrar essa calma
após tanto tempo)
e as mãos despediram
todos os gestos.

O avô entre rosas
com seu terno escuro.
Pela primeira vez
indiferente.
Pela primeira vez
desatencioso
com mulher, filhos, netos,
conhecidos, o mundo.

Nem que implorássemos
nos recontaria
as tantas lembranças
entre farrapos de ópera.
Descansa tão fundo e
alto que é impossível
despertá-lo, saber
mesmo onde repousa.
No entanto está em nós
e nos impõe seus traços,
cor de olhos, jeito
de andar, sorrir, falar.

E o mais difícil de
cumprir:
  a insuavizável
dignidade.

2.
Avô, já nos retiramos.
Em silêncio vamos descendo
a ladeira. Pó do teu pó,
flutuaremos até
que o vento contenha o sopro.

E então te herdaremos
também essa paz final.
Absoluta. Tão perfeita
que nem a saberemos.
1.
Ce grand-père se repose
depuis près d’un siècle.
Son visage est serein
(comment est-il possible
de montrer un tel calme
après tant d'années)
de ses mains tous les gestes
ont été congédiés.

Ce grand-père parmi les roses
avec son costume sombre.
Pour la première fois
indifférent.
Pour la première fois
inaccessible
avec femme, enfants, petits-enfants,
connaissances, avec le monde.

Même si nous l'avions imploré
il ne nous aurait pas raconté
ses souvenirs si nombreux
au milieu des falbalas de l’opéra.
Il repose si profondément et
si haut qu'il est impossible
de le réveiller, ni même
de savoir où il repose.
Pourtant il est en nous
et nous impose ses traits,
la couleur de ses yeux, sa façon
de marcher, de sourire, de parler.

Et le plus difficile
atteindre à :
  son insoutenable
dignité.

2.
Grand-père, déjà nous nous retirons.
En silence nous allons descendre
ce raidillon. Cendre de ta cendre,
nous flotterons jusqu’à
ce que le vent retienne notre souffle.

Et puis nous hériterons de toi
aussi cette paix finale.
Absolue. Si parfaite
que nous ne le saurons même pas.
________________

Giovanni Battista Nodari
Figura di vecchio giacente (1900-1910)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (106) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (435) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (252) Reinaldo Ferreira (23) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)