Essa mulher


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Ruy Espinheira Filho »»
 
Elegia de agosto e outros poemas (1996-2004) »»
 
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Essa mulher
Cette femme


A que nunca amei e me ama pensa em mim à noite
antes de dormir, e nos escombros do sono
vê o meu rosto suave, arrogante, de há muitos anos
e sente uma mão fria empunhar-lhe o coração.
 
É bela a que nunca amei e me ama, cada vez mais bela
com seus cabelos soltos ao sopro da memória,
com uma voz onde sonham luas que jamais iluminaram
um caminho que me levasse à que nunca amei e me ama.
 
É doce essa mulher que acorda e diz o meu nome
com unção. Seus olhos me fitam do longínquo
e doem em mim como dói nessa mulher que me ama
amar quem nunca a amou, disperso em seus enganos.
 
A que nunca amei e me ama acaricia a minha ausência
com pena de mim, que teria sido feliz, bem sabe,
se a tivesse amado; a ela, que me ama e nunca amei
e nunca hei de amar, como até hoje, amargamente.
Celle que je n’ai pas aimée m’aime et pense à moi la nuit
avant de s'endormir, et dans les décombres du sommeil
voit mon visage adouci, arrogant, il y a beaucoup années
et elle sent une main froide qui lui empoigne le cœur.

Elle est belle, la jamais aimée qui m’aime, toujours plus belle
avec ses cheveux abandonnés aux souffles de la mémoire,
avec une voix où rêvent des lunes qui n’ont jamais éclairé
le chemin qui mène jusqu'à celle, jamais aimée qui m’aime.

Elle est douce cette femme qui se réveille et dit mon nom
avec plein de dévotion. Ses yeux me contemplent de loin
et me font mal comme j'ai fait mal à cette femme qui m’aime,
aimant qui ne l’a jamais aimée, égaré par ses tromperies.

Celle que je n’ai pas aimée m’aime et caresse mon absence
elle a pitié de moi, qui aurait été si heureux, je le sais bien,
si je l’avais aimée, elle qui m’aime et n'a jamais été aimé
Et je ne pourrai jamais plus, amer, l'aimer comme aujourd’hui.
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Felice Casorati
Daphnée à Paravola (1934)
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