Os livros mortos


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Luís Filipe Castro Mendes »»
 
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Os livros mortos
Les livres morts


Alguns dizem não deixaremos a poesia,
ela atravessará connosco a miséria do mundo
e aonde quer que cheguemos ela falará por nós.
Outros pensam só num resto de decência,
para a proteger com as mãos, como uma frágil chama
se protege do vento.

Eu não sei. Todos os poemas queimados em praça
 pública
por louros estudantes arianos e belos,
todos os poetas exilados
em campos de trabalho e redenção pelo povo,
todos os que tiveram de passear
sob apupos e com orelhas de burro na cabeça,
porque burgueses afinal burgueses,
todos esses tiveram o seu prémio afinal.

Para os novos senhores é indiferente:
um simples jogo de linguagem sem pertinência
e sem valor acrescentado nas palavras
não lhes merece qualquer menção. Deixam-nos para
 trás,
porque somos todos nós afinal tão supérfluos e
 irrelevantes
como as palavras que caem
dos nossos livros mortos
Certains disent nous n’abandonnerons pas la poésie,
elle traversera avec nous la misère du monde
et là où elle veut que nous allions, elle parlera pour nous.
D’autres pensent seulement avec un reste de décence,
à la protéger de leurs mains, comme on protège du vent
une flamme fragile.

Je ne sais pas. Tous les poèmes brûlés sur la place
 publique
par de blonds et beaux étudiants aryens,
tous les poètes exilés
dans des camps de travail et de rédemption pour le peuple,
tous ceux qui ont dû se promener
sous les huées avec des oreilles d’âne sur la tête,
à cause de bourgeois finalement bourgeois,
tous ceux-là ont eu leur prix finalement.

Aux nouveaux maîtres, elle est indifférente:
un simple jeu de langage sans pertinence
et sans valeur ajoutée dans les mots
ils ne lui accordent aucun mérite. Ils nous laissent
 derrière eux,
parce que nous sommes tous superflus et sans
 importance
comme les mots qui tombent
de nos livres morts.
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Anselm Kiefer
"Des Herbstes Runengespinst" Paul Celan (2005)
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