Aniversário


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Ruy Espinheira Filho »»
 
Morte secreta e Poesia anterior (1976-1984) »»
 
Italien »»
«« précédent / Sommaire / suivant »»
________________


Aniversário
Anniversaire


Metade do tempo consumada
ou ainda mais.
No peito, a mesma fome, a mesma sede
do menino, do rapaz.
O mesmo olhar perplexo
o mesmo
sem resposta
gesto crispado interrogando.

(É dezembro
e noite e abro a janela
e vejo outras janelas iluminadas.
Ali há vida, como na rua, como
no campo e no mar e nos velozes
aparelhos que cortam o espaço
e
talvez
noutros planetas e universos.
Como há incontáveis séculos e
provavelmente
amanhã. Mas tudo rápido
demais
que nem nos podemos saber
e partimos
no mesmo escuro em que chegamos.)

Perdi colegas, namoradas, cães.
Perdi árvores, pássaros, perdi um rio
e eu mesmo nele me banhando.
Isto o que ganhei: essas perdas. Isto
o que ficou: esse tesouro
de ausências.

(A noite avança e as janelas
aos poucos
se apagam. No silêncio
meu coração permanece
iluminado. Eis que trabalha, fiel,
mesmo quando revela
a si mesmo em breve imóvel
ou, depois, a última estrela
sem testemunhas
no céu final.)
Moitié du temps parcouru
ou plus encore.
Dans la poitrine, la même faim, la même soif
de minot, de garçon.
Le même regard perplexe
la même
absence de réponse
geste crispé d’interrogation.

(On est en décembre
il fait nuit j’ouvre la fenêtre
et je vois d’autres fenêtres illuminées.
Il y a de la vie, comme dans la rue, comme
dans les champs, en mer et de rapides
appareils qui découpent l’espace
et
peut-être
aussi d’autres planètes et univers.
Comme il y a d’innombrables siècles et
probablement
des lendemains. Mais tout va
trop vite
que nous ne pouvons même pas le savoir
et nous repartons
comme nous sommes venus dans la même obscurité.)

J’ai perdu des collègues, des amours, des chiens.
J’ai perdu des arbres, des oiseaux, une rivière
où moi-même je me suis baigné.
Voici ce que j’ai gagné : ces pertes. Ce
qui reste : ce trésor
d’absences.

(La nuit avance et les fenêtres
peu à peu
s’éteignent. Dans le silence
demeure mon cœur
illuminé. Le voici qui travaille, fidèle,
même lorsqu'il se révèle
à soi-même bientôt immobile
ou dernière étoile
sans témoins
dans le ciel final.)
________________

Giacomo Balla
Orbites célestes (1913)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (106) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (435) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (252) Reinaldo Ferreira (23) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)