Junto ao Sena, o vento…


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Junto ao Sena, o vento…
Le long de la Seine, le vent


Junto ao Sena, o vento
Rapta a nossa efemeridade.
É o vento de Paris que lhe dá rumo.
É outono e tudo começa
A não ser verdadeiro
Para o olhar que não mudou.
Mudam-se as roupagens,
Prepara-se outro amor e outra morte.
Em Paris, a morte não significa morrer –
Talvez um tempo que já tenha sido regresse.
É em Paris que encontro Beatrice,
Já não uma aristocrata florentina,
Mas a publicitária que me vende um perfume
E traja de azul e fala a cantar.
E o seu sorriso é um fragor em mim
E os lugares-comuns são esplendorosos
Para falar de Beatrice.
É perante ela que uma vida enflora
Para se fechar no mesmo momento,
Fim e principio sobrepostos, indistintos.
No círculo do vento com a minha alma
Está Beatrice e Beatrice,
Na minha alma, diz-me
Que aqui, em Paris, com ela,
A minha efemeridade pode durar
Um pouco mais.

Le long de la Seine, le vent
Ravit notre fugacité.
C’est le vent de Paris qui lui donne un sens.
C'est l'automne et tout commence
À n'être plus vrai
pour le regard qui n'a pas changé.
On change d'oripeaux,
On se prépare à un nouvel amour, une autre mort.
À Paris, la mort ne signifie pas mourir –
Mais peut-être un temps qui a déjà été et qui revient.
C’est à Paris que je rencontre Béatrice,
Non pas une aristocrate florentine,
Mais la publiciste qui me vend un parfum
Et qui s'habille en bleu et parle en chantant.
Son sourire fait en moi du fracas
Et les lieux communs sont magnifiques
Pour parler de Béatrice.
C’est devant elle qu’une vie s'orne de fleurs
Pour se refermer dans le même instant,
Début et fin superposés, indistincts.
Dans le cercle du vent avec mon âme
Il y a Béatrice et Béatrice,
Dans mon âme, quelqu'un me dit
Qu’ici, avec elle, à Paris,
Ma fugacité peut durer
un peu plus longtemps.

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Gaston Balande
Quai de Seine (1951)
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