Vivo numa cidade tão pequena...


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Vivo numa cidade tão pequena...
Je vis dans une ville si petite...


Vivo numa cidade tão pequena
Que não a compreendo.
A minha mãe julga-me feliz,
Mas feliz é apenas o momento
Em que, ao telefone, com ela,
Rio para esquecer todo o resto.
Preciso de alguém para cuidar,
De alguém que cuide de mim,
E nada tenho senão raiva e náusea.
Tenho outros sentimentos, creio,
Mas não os conheço.
Nesta cidade, apenas tenho de meu
A chuva que me espera
Quando saio do meu túmulo burocrático,
A chuva que perscruta o longe e o perto,
A chuva que é a minha alma à escuta.
Faço compras, o amor dói,
Tem dores de costas, bronquite,
Uma lama de náusea e raiva e corvos
E o arquejar de uma indiferença angustiada
Em que renasce, persiste e morre.
A fraqueza corre-me no sangue.

Je vis dans une ville si petite
Que je ne la comprends pas.
Ma mère pense que je suis heureux
Mais je ne suis heureux qu'un moment
Lorsque avec elle, au téléphone,
Je ris pour oublier tout le reste.
J'ai besoin de quelqu'un qui m'occupe,
De quelqu'un qui prenne soin de moi,
Et je n'ai rien si ce n'est rage et nausée.
J'ai d'autres sentiments, je crois,
Mais je les ignore.
Il n'y a rien dans cette ville, je n'ai
Que la pluie qui m'attend
Lorsque je sors de la tombe de mon bureau,
La pluie qui scrute le proche et le lointain,
La pluie qui est mon âme qui écoute.
Je fais des courses, l'amour me fait souffrir,
Il a des douleurs dans le dos, une bronchite,
Une boue de nausée, de rage et de corbeaux
Et ce halètement d'une indifférence angoissée
En laquelle il renaît, persiste et meurt.
Une faiblesse coule dans mon sang.

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Marcel Ceuppens
La vue (2011)
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