O tempo e o nada


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O tempo e o nada
Le temps et le rien

É fácil imaginar
o nada físico
o vácuo
um buraco no osso da matéria.

Basta pensar
no interior de um coco-da-baía
sem ar sem água
sem polpa:
o coco e seu oco absoluto.

Mas é espantoso
conceber um não-momento
um traço
vazio
no fio do tempo
– ou um tempo sem fio.

Como figurar o nada
no fluxo contínuo
de horas e eras que inventamos
esse cabo de aço indestrutível

que julgamos prosseguir
para sempre
antes e depois de nós?

Um buraco na pele das horas.
Quem ousa pensar
no tempo
como rota interrompida?

Quem se atreve a dizer
que ontem não existiu?
E que o próximo
sábado
vai cair no oco e ficar suspenso
do calendário?

Il est facile d'imaginer
l'absence physique
le vide
un trou dans l'os de la matière.

Il suffit de penser
à l'intérieur d'une noix de coco
sans air sans eau
sans pulpe :
la noix et son creux absolu.

Mais c'est époustouflant
de concevoir un non-moment
une trace
vide
dans le fil du temps
– ou un temps sans fil.

Comment se figurer le rien
dans le flux continu
des heures et des âges que nous inventons
ce câble en acier indestructible

que nous nous imaginons poursuivre
pour toujours et à jamais
avant et après nous ?

Un trou dans la peau des heures.
Qui oserait penser
au temps
comme à une route interrompu ?

Qui se hasarderait à dire
que hier n'existait pas ?
Et que le prochain
samedi
va chuter dans un creux et rester suspendu
au calendrier ?

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Azuma Kengiro
La vie infinie (2015)
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