Pet shop


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Carlos Machado »»
 
Tesoura cega (2015) - Brinquedo de Chronos »»
 
Italien »» Espagnol »»
«« précédent / Sommaire / suivant »»
________________

Pet shop
Pet shop

Os materiais são muitos, rígidos ou precários.
Alguns bebem água.
Outros ruminam grãos de areia
ou se distraem desenhando sombras.
 
Há também esses robustos gladiadores
com peito de puro aço.
E ainda os modernos automatismos
que trazem no âmago
silenciosos cristais de silício.
 
  Mas
 
nenhum relógio diz a hora certa
porque todos mentem a circunstância.
 
Todos ocultam de ti
a hora do caos
o instante em que os cães
agitam as narinas rubras
e assoviam como gatos asmáticos.
 
Nenhum relógio
provê a graça e a franqueza
de revelar
quanto falta para o derradeiro pôr do sol.
 
*
Eles estão em toda parte. Na parede,
no bolso, no pulso e em cada uma dessas máquinas
estranhas — embora íntimas —
que arrastamos pelos corredores
como extensões de nossa própria carne.
 
*
O tempo é nosso bicho de estimação,
do qual nunca nos apartamos.
 
Ou, sejamos sinceros,
nós é que somos seus artefatos de brinquedo.
 
Soldados de chumbo?
ursos de pelúcia?
helicópteros de controle remoto?
 
Não, ele nos prefere bichos orgânicos
brinquedos com alma,
desses que se acreditam donos do próprio rumo.
 
Desses que ele,
Chronos,
expõe na vitrine de sua pet shop

Les matériaux sont nombreux, rigides ou précaires.
Certains boivent de l'eau.
D'autres ruminent des grains de sable
ou se distraient en dessinant des ombres.

Il y a aussi ces robustes gladiateurs
au poitrail en acier pur.
Et encore les modernes automatismes
qui apportent en arrière-fond
de silencieux cristaux de silicium.

 Mais

aucune horloge ne dit l'heure certaine
car toutes mentent sur les circonstances.

Toutes te cache
l'heure du chaos
l'instant où les chiens
agitent leurs museaux rubescents
et sifflent comme des chats asthmatiques.

Aucune montre
n'apporte assez de grâce et de franchise
pour révéler ce qu'il reste
de temps avant le coucher de soleil final.

*
Elles sont partout. Sur le mur,
dans ta poche, à ton poignet et sur chacune de ces machines
étranges - et tout de même intimes -
que l'on traîne avec soi dans les couloirs
comme des extensions de notre propre chair.

*
Le temps est notre animal de compagnie,
dont nous ne nous départons jamais.

Ou, soyons sincères,
c'est nous qui sommes ses artefacts de jeu.

Soldats de plomb ?
ours en peluche ?
hélicoptères télécommandés ?

Non, il nous préfère animaux organiques
jouets qui ont une âme,
de ceux qui croient posséder leur destin

De ceux que lui,
Chronos,
expose dans la vitrine de son pet shop

________________

Salvador Dalí
La persistance de la mémoire (1931)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (433) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (250) Reinaldo Ferreira (11) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)