Não odiei ninguém...


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Não odiei ninguém...
Je n'ai haï personne...


 “Porém meu ódio é o melhor de mim”
 Carlos Drummond de Andrade

Não odiei ninguém, nem mesmo
Quando me enterraram vivo.
Não tem importância,
De nada me servia, embora me pertencesse
A minha vida.
Não perguntei nada,
Lá teriam as suas razões
Para me enterrarem vivo
Aqui, onde tocam telefones
Dia e noite, dia e noite,
Por onde passa gente
Sem nunca se deter,
Gente que nem sequer tem tempo
De ter rosto e expressão.
Tão-pouco protestei –
Para não incomodar –
Quando me enterraram vivo.
Esperei, paciente, e a paciência
Roeu-me os ossos.
Não tem importância.
Educadamente até me pediram desculpa
Por me enterrarem vivo.
Não os odiei, não me odiavam.
Se alguma vez odiássemos,
Talvez fossemos pessoas melhores.

 "Cependant, la haine est le mailleur de moi-même"
 Carlos Drummond de Andrade

Je n'ai haï personne, pas même
Lorsqu'ils m'ont enterré vivant.
C'est sans importance,
Et ne me sert à rien, bien que ma vie
M'appartienne.
Je n'ai rien demandé,
Ils devaient avoir leurs raisons,
Eux, pour m'enterrer vivant
Ici, où les téléphones sonnent
Jour et nuit, jour et nuit,
Où les gens passent
Sans jamais s'arrêter,
Des gens qui n'ont pas même le temps
D'avoir un visage et une expression.
C'est à peine si j'ai protesté –
Pour ne pas déranger –
Lorsqu'ils m'ont enterré vivant.
J'ai attendu, patienté et la patience
M'a rongé les os.
C'est sans importance.
Poliment, ils m'ont même présenter des excuses
Pour m'avoir enterré vivant.
Je ne les hais point, ils ne me haïssent pas.
Si nous en venions à nous haïr,
Peut-être serions-nous de meilleures personnes.

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Antoine Wiertz
L'enterré vivant (1854)
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