Poema


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João Cabral de Melo Neto »»
 
Pedra do sono (1942) »»
 
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Poema
Poème


Meus olhos têm telescópios
espiando a rua,
espiando minha alma
longe de mim mil metros.

Mulheres vão e vêm nadando
em rios invisíveis.
Automóveis como peixes cegos
compõem minhas visões mecânicas.

Há vinte anos não digo a palavra
que sempre espero de mim
Ficarei indefinidamente contemplando
meu retrato eu morto.
Mes yeux ont des télescopes
espionnant la rue
espionnant mon âme
loin de moi à mil mètres.

Des femmes vont et viennent nageant
au sein de rivières invisibles.
Des automobiles comme des poissons aveugles
composent mes visions mécaniques.

En vingt ans je n'ai pas dit les mots
que j'attends toujours de moi.
Je resterai indéfiniment à contempler
le portrait de moi qui suis mort.
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Luca Pignatelli
Invitation (1992)
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