Ruína


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Manoel de Barros »»
 
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Ruína
Ruines


Um monge descabelado me disse no caminho:
"Eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução.

Minha ideia era de fazer alguma coisa ao jeito de tapera.
Alguma coisa que servisse para abrigar o abandono, como as taperas abrigam.
Porque o abandono pode não ser apenas de um homem debaixo da ponte,
mas pode ser também de um gato no beco ou de uma criança presa num cubículo.
O abandono pode ser também de uma expressão
que tenha entrado para o arcaico ou mesmo de uma palavra.
Uma palavra que esteja sem ninguém dentro.

(O olho do monge estava perto de ser um canto.)

Continuou: digamos a palavra AMOR.
A palavra amor está quase vazia.
Não tem gente dentro dela.
Queria construir uma ruína para a palavra amor.
Talvez ela renascesse das ruínas, como o lírio pode nascer de um monturo”.
E o monge se calou descabelado.

Un moine échevelé m'a dit en chemin :
« Je voulais construire une ruine. Tout en sachant bien qu'une ruine est une déconstruction.

Mon idée était de faire quelque chose pareil à une masure.
Quelque chose qui donnerait refuge à l'abandon, comme ces masures où l'on fait gourbi.
Car l'abandon n'est peut-être pas seulement un homme vivant sous les ponts,
cela peut être un chat dans une ruelle ou un enfant pris au piège dans un réduit.
Et l'abandon peut aussi être une expression
qui est entrée en désuétude ou même une parole.
Une parole sans plus rien à l'intérieur.

(L'œil du moine était en passe de devenir une fente.)

Il continua : prenons le mot AMOUR.
Le mot amour est presque vide.
Il n'y a personne à l'intérieur.
Je voulais construire une ruine pour le mot amour.
Peut-être renaîtra-il de ses ruines, comme le lys peut naître du fumier ».
Et le moine se tut, échevelé.

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Bernardo Bellotto, dit Canaletto
Les ruines de la vieille Kreuzkirche à Dresda (1765)
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