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Compendium


Ao fim e ao cabo, é suposto ser esta
A grande lição da vida,
Segundo a qual, ferozmente civilizados,
Nos devoramos e esfacelamos
E dos nossos restos
Fazemos a vida toda.
Cada vez menores,
Vemos cada vez maior o passado,
Um fio ténue de presente
E o ocaso alberga todo o futuro,
Mais e mais difusa
A possibilidade de todas as manhãs
De todos os caminhos por haver.
Só o amor unificaria os nossos restos,
Erguendo-os em uníssono,
Só o amor nos salvaria, só o amor.
E, contudo, já não restam neste mundo
Pasárgadas por onde possamos ir embora,
Onde sejamos amigos dos reis,
Onde tenhamos a mulher que queremos.
Só o amor, de céu muito azul
Ou nublado, só o amor
Nos salvaria neste grande suicídio –
A lição da vida.

Au bout du compte, c'est censé être
La grande leçon de la vie,
Selon laquelle, farouchement civilisé,
Nous nous dévorons, et gangrené
Par nous-mêmes, nous faisons
De nos restes, notre vie toute entière.
Chaque fois plus diminué,
Nous voyons le passé s'agrandir,
Le fil du présent s'atténuer
Et le déclin héberger tout l'avenir.
Elle est de plus en plus diffuse
La possibilité de tous les matins
De tous les chemins d'existence.
L'amour seul unifierait nos restes,
Les soulevant à l'unisson,
L'amour seul nous sauverait, l'amour seul.
Et cependant, il ne reste plus dans ce monde
De Pasargades1 où nous pouvons aller,
Où nous serions les amis des rois,
Où nous aurions la femme désirée,
L'amour seul, sous un ciel très bleu
Ou rempli de nuages, l'amour seul
Nous sauverait de ce grand suicide –
Une leçon de vie.

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Hieronymus Bosch
Le Jardin des Délices (détail) (1480-1490)
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