Junto à água


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Manuel António Pina »»
 
Um Sítio Onde Pousar A Cabeça (1991) »»
 
Italien »»
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Junto à água
Au voisinage de l'eau


Os homens temem as longas viagens,
os ladrões da estrada, as hospedarias,
e temem morrer em frios leitos
e ter sepultura em terra estranha.

Por isso os seus passos os levam
de regresso a casa, às veredas da infância,
ao velho portão em ruínas, à poeira
das primeiras, das únicas lágrimas.

Quantas vezes em
desolados quartos de hotel
esperei em vão que me batesses à porta,
voz de infância, que o teu silêncio me chamasse!

E perdi-vos para sempre entre prédios altos,
sonhos de beleza, e em ruas intermináveis,
e no meio das multidões dos aeroportos.
Agora só quero dormir um sono sem olhos

e sem escuridão, sob um telhado por fim.
À minha volta estilhaça-se
o meu rosto em infinitos espelhos
e desmoronam-se os meus retratos nas molduras.

Só quero um sítio onde pousar a cabeça.
Anoitece em todas as cidades do mundo,
acenderam-se as luzes de corredores sonâmbulos
onde o meu coração, falando, vagueia.

Les hommes ont peur des longs voyages,
des bandits de grand chemin, des auberges,
ont peur de mourir en des lits froids
et d'être enterré dans un pays étranger.

Aussi leurs pas les ramènent-ils
à la maison, aux chemins de l'enfance,
à la vieille porte en ruine, à la poussière
des premiers, des uniques chagrins.

Combien de fois en
des chambres d'hôtel désolées
ai-je attendu en vain que tu viennes frapper
à ma porte, voix d'enfance, que m'appelle ton silence !

Et je vous ai perdu pour toujours entre les barres
d'immeubles, rêves de beauté, et dans les rues
interminables, au milieu de la foule des aéroports.
Maintenant je ne veux plus dormir que d'un rêve

sans yeux et sans ténèbres, sous un toit pour finir.
Tout à l'entour de moi se fracasse
mon visage dans une infinité de miroirs
et mes photos dégringolent dans les cadres.

Je veux simplement un endroit où poser ma tête.
À la nuit tombée, dans toutes les villes du monde,
se sont allumées les lumières de couloirs somnambules
où mon cœur, en parlant, divague.

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Marcel Ceuppens
L'homme à la fenêtre (2014)
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