O menino que ganhou um rio


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O menino que ganhou um rio
L'enfant qui avait reçu une rivière


Minha mãe me deu um rio.
Era dia de meu aniversário e ela não sabia
o que me presentear.
Fazia tempo que os mascates não passavam
naquele lugar esquecido.
Se o mascate passasse a minha mãe compraria
rapadura
Ou bolachinhas para me dar.
Mas como não passara o mascate, minha mãe me
deu um rio.
Era o mesmo rio que passava atrás de casa.
Eu estimei o presente mais do que fosse uma
rapadura do mascate.
Meu irmão ficou magoado porque ele gostava
do rio igual aos outros.
A mãe prometeu que no aniversário do meu
irmão
Ela iria dar uma árvore para ele.
Uma que fosse coberta de pássaros.
Eu bem ouvi a promessa que a mãe fizera ao
meu irmão
E achei legal.
Os pássaros ficavam durante o dia nas margens
do meu rio
E de noite eles iriam dormir na árvore do
meu irmão.
Meu irmão me provocava assim: a minha árvore
deu flores lindas em setembro.
E o seu rio não dá flores!
Eu respondia que a árvore dele não dava
piraputanga.
Era verdade, mas o que nos unia demais eram
os banhos nus no rio entre pássaros.
Nesse ponto nossa vida era um afago!

Ma mère m'a donné une rivière
C'était mon jour anniversaire et elle ne savait pas
quoi m'offrir.
Il y avait longtemps que les colporteurs ne passaient
plus dans cet endroit oublié.
Si le colporteur passait ma mère achetait
du sucre de canne
Ou des biscuits qu'elle me donnait.
Mais comme le colporteur ne passait plus, ma mère
me donna une rivière.
C'était celle qui passait derrière la maison.
J’appréciais le cadeau bien plus que le sucre
de canne du colporteur.
Mon frère fut vexé car il aimait cette rivière
comme les autres.
Ma mère promit que pour l'anniversaire de mon
frère
Elle lui donnerait un arbre.
L'un de ceux qui sont couverts d'oiseaux.
J'avais bien entendu la promesse que ma mère
avait faite à mon frère
Et c'était bien.
Les oiseaux viendraient le jour sur les bords
de ma rivière
et la nuit ils iraient dormir dans l'arbre de
mon frère.
Mon frère me provoqua ainsi : mon arbre
donne de belles fleurs en septembre.
Mais ta rivière ne donne pas de fleurs !
Je lui répondit que son arbre, lui ne donnait pas
de piraputanga.
C'était vrai, mais ce qui nous réunissait le plus était
les bains nus dans la rivière parmi les oiseaux
Sur ce point notre vie était un délice.

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Jean-Michel Folon
La Chapelle Folon à Saint-Paul de Vence (fresque) (2004)
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