Numa estação de metro


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Manuel António Pina »»
 
Um Sítio Onde Pousar A Cabeça (1991) »»
 
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Numa estação de metro
Dans une station de métro


A minha juventude passou e eu não estava lá.
Pensava em outra coisa, olhava noutra direcção.
Os melhores anos da minha vida perdidos por distracção!

Rosalinda, a das róseas coxas, onde está?
Belinda, Brunilda, Cremilda, quem serão?
Provavelmente professoras de Alemão
em colégios fora do tempo e do espa-

ço! Hoje, antigamente, ele tê-las-ia
amado de um amor imprudente e impudente,
como num sujo sonho adolescente
de que alguém, no outro dia, acordaria.

Pois tudo era memória, acontecia
há muitos anos, e quem se lembrava
era também memória que passava,
um rosto que entre outros rostos se perdia.

Agora, vista daqui, da recordação,
a minha vida é uma multidão
onde, não sei quem, em vão procuro
o meu rosto, pétala dum ramo húmido, escuro.

Ma jeunesse est passée et je n'étais pas là.
J'ai pensé à autre chose, visé une autre direction.
Les meilleures années de ma vie perdues par distraction !

Rosalinde, qui avait les cuisses roses, où est-elle ?
Belinda, Brunilde, Cremilde que sont-elles devenues ?
Probablement des professeurs de collèges
en allemand en dehors du temps et de l'esp-

ace ! Aujourd'hui, autrefois, il les aurait
aimées d'un amour imprudent et impudent,
comme dans un rêve sale d'adolescent
dont le sortirait quelqu'un venu d'un autre jour.

Car tout n'était plus que mémoire, survenu
il y a bien des années, et celui qui s'en souvenait
n'était aussi que mémoire passagère,
un visage qui se perd parmi d'autres visages.

Maintenant, vu d'ici, de cette remontée
du souvenir, ma vie est une cohue
où, ne sachant lequel, je cherche en vain
mon visage, pétale d'une branche humide, obscure.

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Omar Hassan
Toi (2019)
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