Winter night


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Rui Pires Cabral »»
 
Música Antológica & Onze Cidades (1997) »»
 
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Winter night
Winter night


A meio da tarde o dia ainda não foi encetado,
parece barricar-se nas folhas moles
dalgum livro. Tu já sabes como eu gosto dos cafés
nas horas de pouco movimento. Os empregados
podem entregar-se a querelas ruidosas nessa altura
e os reformados na mesa do fundo vão dizer em voz alta
aquilo que pensam sobre o governo.

Ao princípio da noite é como ter sangue
nas mãos. Talvez o tempo ainda se componha, talvez
 possa
telefonar a um amigo. É certo que nas ruas se torna
 mais fácil
distrair o medo, há sempre espaço onde pousar
a cabeça. Mas em que me torno no quarto quando
 não estás
a olhar? O cheiro da comida flutua ainda pelos corredores,
sente-se o peso que dorme no escuro até às entranhas.
Se pudesses ver como isso às vezes me magoa.
En fin d'après-midi, le jour n'est pas encore entamé,
il semble se barricader dans les molles feuilles
de quelque livre. Tu sais combien j'aime les cafés
aux heures creuses. Les serveurs peuvent alors
se livrer à de bruyantes chamailleries
et les retraités de la table du fond disent tout haut
ce qu'ils pensent du gouvernement.

En début de soirée, c'est comme avoir du sang
sur les mains. Peut-être que le temps se rétablira, peut-être
  pourras-tu
téléphoner à un ami. Il est vrai que dans la rue, il est plus
  facile de se détourner
de la peur, il y a toujours de la place où poser
la tête. Mais qu'est-ce que je deviens dans la pièce lorsque
  tu ne regardes
pas ? L'odeur de la nourriture flotte encore dans les couloirs,
on sent jusqu'aux entrailles le poids qui dort dans l'obscurité.
Si tu pouvais voir à quel point cela me fait mal parfois.
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Vincent van Gogh
La chambre à coucher à Arles (1888)
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