Um dia, de porre...


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Poesias nunca publicadas de... (2012) - Década de 70 »»
 
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Um dia, de porre...
Un jour, bien qu'étant ivre...


um dia, de porre,
ainda vou te fazer uma declaração de amor
falando coisas como só-penso-em-você
ou ando-louco-de-paixão ou não importa

mas um dia, de porre ou cara limpa,
fumado ou cheirado até a última carreira
ainda vou te fazer uma declaração de amor
tão completamente descarada
que no dia seguinte a gente se olhe de lado
meio rindo baixinho
que loucura, hein cara?
e nunca mais toque no assunto

mas um dia, ah um dia, qualquer dia
vou dar um escândalo no bar para que todos ouçam
e você morra de vergonha da minha grande baixeza
vou te pegar de surpresa, dizer tolices meladas
que capricho ou ilusão ousariam publicar
vou pedir mais copo, acender a última baga,
cheirar a derradeira e berrar frenético

que não têm conta as punhetas que bati por você
que não têm conta as cartas de amor que não mandei
que não têm conta os cigarros e as insônias
e as caminhadas loucas e as flores que joguei no lixo
e essas coisas tontas que a gente faz
quando anda cego de amor ou de tesão,
nunca se sabe

direi nesse dia qualquer, então,
quando te pegar de jeito no meio da praça
no canto do bar, na cama do apartamento
na porta de entrada ou saída, que importa?
e de porre ou não, prometo,
ainda vou te fazer uma declaração de amor
tão completa e tão esplendida
e tão absoluta e tão definitiva
e tão [desesperada e inutilmente/inútil e desespera-
  damente] autossuficiente
que dispensará qualquer resposta.

depois, darei um suspiro de alívio
e nunca mais te olharei na cara.
Un jour, bien qu'étant ivre,
Je te ferai une déclaration d'amour
je te dirai des choses comme je-ne-pense-qu'à-toi.
ou je-suis-fou-de-passion ou n'importe quoi d'autre

mais un jour, que je sois ivre ou non
allumé ou défoncé jusqu'à la moelle
Je te ferai quand même une déclaration d'amour
si totalement éhontée
que le jour suivant, nous nous regarderons de travers.
riant jaune à moitié
quelle folie, hein bonhomme ?
et nous n'aborderons plus jamais le sujet

mais un jour, ah un jour, n'importe quel jour
Je ferai un esclandre au bar pour que tous puissent entendre
et tu mourras de honte devant ma grande bassesse.
Je te prendrai par surprise, te disant des âneries mielleuses
Que le caprice ou l'illusion n'oserait rendre public
Je demanderai un autre verre, j'allumerai la dernière baie.
et gonflé à bloc, je te crierai avec frénésie

n'avoir jamais compté les fois où je me suis branlé pour toi.
jamais compté les lettres d'amour que je n'ai pas envoyées.
jamais compté les cigarettes et les insomnies
les promenades folles et les fleurs que j'ai jetées à la poubelle
et toutes ces choses idiotes que nous faisons
quand nous sommes aveuglés par l'amour ou le désir,
on ne sait jamais

ce que je pourrais te dire aussi, un de ces jours,
lorsque je te prends par surprise au milieu de la place,
au coin du bar, dans le lit de l'appartement,
à la porte d'entrée ou à la porte de sortie, qui s'en soucie ?
et ivre ou non, je te promets
que je te ferai quand même une déclaration d'amour
si complète, si splendide,
si absolue, si définitive
et si [désespérée et inutilement/inutile et désespérément]
  autosuffisante
qu'elle se dispensera de toute réponse.

alors je pousserai un soupir de soulagement.
et ne pourrai plus jamais te regarder en face.
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Maciej Cieśla
Diable ivre (2020)
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